De barões do café a banqueiros: a origem de dois dos maiores bancos privados do Brasil
Rafael da Silva*
Dois dos grandes bancos privados do país – Itaú e Bradesco – se desenvolveram a partir de capitais prévios dos seus proprietários, os quais, no passado, financiavam a produção e a comercialização do café. O Itaú pertence às famílias Setúbal, Vilela e Moreira Salles; já o Bradesco foi fundado por Amador Aguiar. As duas instituições financeiras cresceram através de inúmeras fusões, aquisições e incorporações de outros bancos e, somente devido ao patrimônio adquirido ao longo da história e ao íntimo relacionamento com o poder político, chegaram à condição de disputar a liderança do setor bancário brasileiro. Em ambos os casos seus empreendimentos bancários sempre estiveram ligados aos interesses privados das regiões econômicas mais prósperas do país e não se restringiram ao setor financeiro.
Vale lembrar que os grandes bancos privados brasileiros começam assumir uma posição de destaque e liderança econômica a partir da década de 1960, período da financeirização da economia nacional. Nesta época, a ditadura militar passa a depender da captação de recursos internacionais através dos bancos para criar seu “milagre econômico” e, embora o Banco do Brasil possua um papel relevante neste processo, o setor financeiro privado emprestou muito dinheiro para a ditadura militar. Em 1973, Amador Aguiar é apresentado publicamente como “O Banqueiro”, na capa da principal revista de negócios da época. Durante a reforma do sistema financeiro, no governo FHC, Itaú e Bradesco intensificam a sua política de expansão através da compra de inúmeros bancos estatais privatizados. Finalizada esta fase, o processo de expansão e concentração do sistema financeiro teve continuidade nos governos de Lula e Dilma, resultando na fusão Itaú/Unibanco e na aquisição do HSBC por parte do Bradesco.
Na atualidade, o sistema financeiro brasileiro atingiu o ápice de sua influência econômica, política e social. Em 2016, os quatro maiores bancos brasileiros (Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander), somaram, juntos, um lucro de 64,643 bilhões de reais. Tais instituições são beneficiadas, no Brasil, pela imensa e crescente transferência de recursos realizada através dos serviços da dívida pública (pagamento de juros e amortizações), que, em 2015, consumiu 962 bilhões, ou 42%, do orçamento geral da União. Em 2017, esse percentual deve subir para 1,7 trilhão, ou 48% – segundo dados do site Auditoria Cidadã. Em contrapartida, a sociedade brasileira é penalizada com altas taxas de juros reais, tarifas e taxas bancárias muito altas. A economia brasileira precisa mudar a ênfase do setor financeiro para o setor produtivo. Como sugere o economista Marcio Pochmann, somente colocando a geração de emprego e renda no centro da política econômica do governo o país voltará a crescer, pois os juros altos travam a economia na medida em que dificultam o financiamento produtivo e incentivam a especulação financeira.
* Dirigente sindical, licenciado em Geografia e funcionário do Banrisul