Desgaste e falta de legitimidade marcam o primeiro mês do Governo Bolsonaro

Professor e cientista político, Renato Dellavechia, avalia os primeiros dias do governo Bolsonaro (PSL)

Em participação no Programa Contraponto, o professor e cientista político, Renato Dellavechia, realizou uma ampla avaliação dos primeiros dias do governo Bolsonaro (PSL). De acordo com o especialista, ao completar um mês de mandato, o governo já sofre com a falta de legitimidade e um forte desgaste. “Muitas brechas estão sendo abertas e isso impacta na incapacidade de sustentar algumas das pautas que foram defendidas na época da campanha”, avalia.

Perda de Legitimidade

Para o cientista político, a perda de legitimidade, desse governo, cria uma situação difícil de ser resolvida, uma vez que, de um lado, possui o apoio de uma força militarizada e, do outro, de instituições bastantes fragilizadas, seja no Parlamento, desmoralizado pela corrupção; seja no Judiciário, assumidamente parcial.

“O que também interfere, no governo, é o modo como ele está sendo visto no plano internacional”, destaca Dellavechia. Um exemplo disso é que diversos países já se manifestaram, publicamente, com preocupação sobre as posições que estão sendo adotadas pelo Brasil com relação às questões climáticas.

“É muito difícil se fazer uma análise do que pode vir pela frente, mas cada fator pode levar a desdobramentos próprios. A única certeza que se tem, hoje, é de que existe uma grande instabilidade e uma grande incerteza quanto ao futuro do país”, avalia.

Não se pode fazer “o que bem entende”

No entanto, o professor Renato também pontua que muitas pautas podem ficar apenas no desejo do governo. “Uma coisa é a vontade dos ministros de implementar certas medidas. Não há a menor dúvida de que a vontade do governo é colocar em curso uma lógica autoritária, liberal, com desmonte do Estado, venda do patrimônio e abertura ao capital externo. Esses são os motivos pelos quais esse governo está aí. E ele não pode ser encarado apenas como um grupo de pessoas que chegou ao poder, mas como o resultado de um processo bancado pelo capital externo nas últimas eleições”, pontua.

Conforme explica Dellavechia, esse governo não teria sido eleito sem um grande apoio midiático e de grandes grupos econômicos. “Mesmo não sendo a alternativa mais confiável ao capital, acabou tornando-se a única alternativa possível para derrotar o programa de governo que estava na oposição”.

Dellavechia explica que possibilidade do governo “fazer o que quer” depende de fatores que ele não controla. O Brasil não é um país isolado do mundo. Ele é um país que tem pressões internacionais muito fortes e sanções, também, caso tome determinadas medidas”, diz.

“Muitas dessas pessoas que compõem o governo chegaram lá pensando que poderiam fazer o que bem entendessem, como se estivessem na empresa deles ou na casa deles, mas eles não têm como fazer isso porque depende de um conjunto de fatores e de uma correlação de forças”, acrescenta o cientista político.

Mitos e verdades: a corrupção é um problema sistêmico

A medida para o que poderá ser feito por esse governo, segundo Dellavechia, depende, exatamente, do grau de legitimidade do governo perante a opinião pública. Ele chama a atenção para o fato de que, agora, vivendo a realidade prática do dia a dia – e não as ilusões criadas pelo uso da tecnologia – as pessoas começam a perceber que o problema da corrupção é sistêmico. “É importante perceber que a corrupção não é algo inerente ou que tenha sua origem no campo da política, mas sim no campo econômico da sociedade”, ressalta.

O cientista político se refere à forma como a mídia trabalha a pauta da corrupção. Na narrativa midiática, os políticos aparecem como os “grandes corruptos” e não se discute o papel do grande capital, que se constituiu a partir dos interesses privados, sustentados pelo estado, muitas vezes de modo legal, mas imoral. “Praticamente todos os empresários que constituíram suas fortunas ou estão livres, ou estão pagando algumas multas, ou estão em prisões domiciliares, em suas mansões, quase todos fazendo acordos de delação, falando algo que não precise necessariamente provar, desde que façam as acusações certas” exemplifica Dellavechia.

Como a sociedade tem percebido, é a política que paga o preço desse processo, uma vez que as pessoas passam a ver a política como algo “sujo”, mas continuam acreditando que a lógica do grande empresário, que vai trazer emprego, é uma lógica de uma pessoa bem intencionada, que não tem envolvimento com corrupção.

“Os municípios ficam brigando para saber quem irá trazer a Havan, não estão suficientemente informados para saber que o dono dessa empresa está metido em diversos empréstimos milionários, junto ao BNDES, e criou sua fortuna em cima disso. Ele é visto como uma pessoa respeitável, que estaria trazendo desenvolvimento e emprego”, observa Dellavechia.

Fonte: RádioCom

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