Artista local faz da arte uma importante manifestação pública

Felipe Silva (Povo!) é um dos artistas que tem transformado os muros da cidade de Pelotas em espaços de cultura e conscientização política.

A arte é do povo e o “Povo!” é da arte. O “Povo!” que passaremos a destacar, a partir de agora, é Felipe Silva. Natural de Porto Alegre, mas criado em Palmares do Sul, Povo! desenha desde criança. “Todo mundo sabe desenhar. A gente desenha desde pequeno. A única diferença é que eu nunca mais parei”, brinca.

A humildade do artista contrasta com a profundidade das suas obras. São trabalhos em cerâmica, gravuras, serigrafia, pintura, bordado e, com mais destaque, pelas ruas da cidade, também o graffiti. Felipe não era conhecido como Povo! e o povo pelotense também não conhecia Felipe, até que diversos suportes da cidade passaram a receber suas intervenções.

Ele conta que a ideia de trabalhar, nas ruas, começou a surgir em 2005, com o único objetivo de apresentar arte crítica e reflexiva. Formado em Artes Visuais, pela UFPel, Felipe lembra que, ainda na época em que era graduando, teve a ideia de criar a imagem de um palhaço com a inscrição <<ovop>> (povo ao contrário). A partir daí, os desenhos passaram a ser colados em diversos pontos da cidade (prédios, postes, carros, placas de luz, tapumes etc. ).

Esse envolvimento com o palhaço <<ovop>> marca o início das manifestações públicas que associavam a imagem e a palavra, provocando sentimentos perturbadores e controversos em quem por elas passava, pelas ruas da cidade, na sua rotina do dia a dia. “Pretendia encontrar alguma imagem que fosse de encontro aos olhos das pessoas que circulam pelas ruas da cidade”, revela. Ao causar esse impacto visual, Povo! explica que procurava algo que pudesse ser, ao mesmo tempo, forte e simples.

“A única imagem capaz de traduzir isso, penso, é a de um palhaço. É a imagem mais forte dentro de um circo. É a figura que nos remete ao riso, à brincadeira, à alegria, ao deboche, mas também à tristeza”, observa o artista. Ele explica que, assim como, no circo, o palhaço é a imagem de maior referência,  o povo simboliza o mesmo para a Nação, pois deve demonstrar sua força diante do descaso do nosso sistema, que leva à desigualdade gritante que vivemos.

“Tenho o maior interesse nessa imagem. Remeter o povo a lutar pelos seus direitos e se manifestar sempre que necessário, para não se esconder atrás de um nariz vermelho e fazer papel de palhaço”, explica. A palavra que acompanha a colagem do palhaço foi invertida para, segundo ele, remeter ao “povo ao contrário”. “Em direção contrária”, reforça. Sempre ressaltando a importância de andar em direção oposta ao sistema de exclusão.

Recentemente Felipe Povo! participou de um evento internacional de grafiteiros, que ocorreu em novembro e dezembro  de 2018, nas cidades de Pelotas e Rio Grande – o Meeting of Styles Brasil. O “palhaço de madeira”, que saiu dos lambes para “criar vida”, nos muros das cidades, através do graffiti, transformou-se na marca registrada do artista. “Comecei a fazer graffiti apenas com a ideia de mexer com o imaginário das pessoas”, diz, humildemente, Povo!. Mas já fez muito mais do que isso. A inquietação de Felipe Povo! é a inquietação de todos nós. É a inquietação do povo. A preocupação de Povo! diante da desigualdade é a preocupação de todos nós. Se deixar de ser. Deixaremos nós, também, de “ser”. Passaremos apenas a “existir”. Que sejamos todos um pouco Povo!. Enquanto houver arte, haverá povo (Povo!). E enquanto houver Povo! (povo) haverá arte.

Texto publicado na edição de Janeiro/Fevereiro do jornal O Troco (Por Eduardo Menezes – jornalista do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região)

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