Manobra no balanço é para esconder lucro da Caixa

Presidente do banco ordenou provisão de R$ 7 bi para cobrir supostas perdas com dívidas duvidosas; manobra esconde lucro e reduz PLR dos empregados

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, segundo informações divulgadas pela agência de notícias Reuters, pediu para que seja feita provisão extraordinária de aproximadamente R$ 7 bilhões para perdas esperadas com calotes na carteira de financiamento imobiliário e a desvalorização de imóveis retomados pelo banco.

Uma análise feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra, porém, que a inadimplência média na carteira imobiliária é muito menor do que a dos demais bancos. “O Banco Central define as regras para a provisão para dívidas duvidosas. Mas, os dados do balanço do terceiro trimestre de 2018 apresentam uma inadimplência muito pequena. Não existe motivo para uma provisão tão grande”, disse a economista Vivian Rodrigues, da subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

A análise do Dieese revela ainda que, em setembro de 2018, a inadimplência na carteira imobiliária da Caixa era de 2,4%. No conjunto dos bancos a inadimplência na época estava em 3%. Em março de 2017, a diferença era de mais de um ponto percentual. Na Caixa a inadimplência era de 2,8%, contra 3,9% no conjunto dos bancos. “A inadimplência sempre foi menor na Caixa”, observou a economista do Dieese.

Se a medida for efetivada, o lucro líquido da Caixa será de menos de R$ 10 bilhões. “Isso quer dizer que esta manobra forçará um prejuízo estrondoso no último trimestre de 2018, pois no terceiro trimestre o banco já havia apresentado um lucro líquido de R$ 11,5 bilhões”, explicou Vivian. “Imóveis são resgates para o banco negociar depois e tentar amenizar as carteiras que já caíram em prejuízo. Ele não pode misturar as duas coisas e provisionar por algo que nem está mais na carteira”, finalizou ao lembrar que o provisionamento diz respeito a carteira ativa do banco.

Privatização

Para o diretor do Sindicato e coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa), Dionísio Reis, a manobra é uma estratégia para justificar a venda de ativos do banco público.

“A razão para esconder o lucro é justificar a venda de ativos pretendida pela atual direção. Afinal, um lucro alto evidencia que não existe razão para a venda dos ativos, o que atrapalha os planos privatistas de Pedro na direção do banco público. Qual seria o motivo para privatizar um banco tão lucrativo?”, questiona Dionísio.

Pedro Guimarães anuncia privatizações na Caixa

O banco já anunciou a intenção de vender diversos de seus ativos e passar o controle das operações em seguros, cartões, gestão de recursos e loterias.

“Essa estratégia privatista reduz a participação da Caixa no mercado, abrindo brechas para os bancos privados ocuparem o espaço do banco público, o que inevitavelmente precariza o atendimento à população. Com isso, a exemplo dos bancos privados, a Caixa deixa de cumprir suas obrigações sociais como instituição bancária”, acrescenta o diretor do Sindicato.

Prejuízo aos empregados

Os empregados da Caixa também não ficaram nada satisfeitos com a notícia. Depois de dar duro para cumprir as metas de uma grande campanha comercial realizada pelo banco em 2018, eles esperam ter seus esforços recompensados por meio da Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). Mas, com uma provisão para cobrir dívidas duvidosas (PDD) que pode chegar a R$ 7 bilhões, o esforço dos empregados terá sido em vão.

“Já havia uma previsão de que o lucro da Caixa chegaria a algo próximo de R$ 15 bilhões. Isso geraria uma boa recompensa aos trabalhadores. Mas, se esta provisão for realmente realizada, as perdas para os funcionários serão proporcionalmente ‘extraordinárias’”, avalia o coordenador da Comissão Executiva de Empregados da Caixa.

“Além de ser mais uma artimanha privatista do presidente Pedro, já conhecido como Lobo de Wall Street pelos empregados, que não o suportam mais, está fraudando o compromisso de reconhecimento dos trabalhadores do banco público, o que não será aceito pelos empregados”, conclui Dionísio.

Foto: Contraf-CUT

Contraf-CUT, com edição de Spbancarios

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