Os infoproletários, a tecnologia e a uberização do trabalho
Pesquisadores apontam que a revolução tecnológica no mundo do trabalho, quando objetiva apenas o lucro, leva à precarização das relações de trabalho e ao adoecimento dos trabalhadores
No domingo 30, o Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem na qual aborda um tema importante, já conhecido e muito debatido pelo movimento sindical bancário. As mudanças nas relações de trabalho, novas tecnologias e o impacto na vida e, principalmente, na saúde dos trabalhadores. Na reportagem, os pesquisadores Ricardo Antunes, Luci Praun e Cláudia Mazzei Nogueira, que fazem parte do grupo de pesquisa Metamorfose do Mundo do Trabalho, da Unicamp, falam sobre um novo perfil de trabalhador, o infoproletário.
São exemplos de infoproletários motoristas de aplicativos, operadores de telemarketing, técnicos da indústria de software, vendedores do comércio digital e, claro, bancários. “É aquele trabalhador que em qualquer atividade que ele desempenha ele depende da máquina digital, informacional, do smartphone ou de alguma modalidade de trabalho digital”, explica o sociólogo Ricardo Antunes.
De acordo com o pesquisador, as características do trabalho dos infoproletários são: alta intensidade no trabalho, pouca criatividade, pouca capacidade de controle e nenhuma estabilidade para o futuro.
“Olhe o que os estudiosos sobre o mundo do trabalho falam sobre ambientes e organização dos trabalhos precarizados e adoecedores dos trabalhadores e suas famílias: mais trabalho para menos gente; trabalho invadindo a vida familiar; pressão para atingir metas; metas cada vez mais altas; desvalorização do trabalhador e do trabalho; humilhações; PLR percentualmente cada vez maior no salário; colegas tomando remédios de tarja preta. Amigo bancário, você reconhece este ambiente?”, indaga a médica e pesquisadora Maria Maeno, coordenadora do Programa Organização, Gestão do Trabalho e Adoecimento da Fundacentro, órgão ligado ao Ministério da Economia.
Na reportagem exibida pelo Fantástico, os pesquisadores citam uma mudança no adoecimento do trabalhador brasileiro. “Um processo de ansiedade, depressão, perda de sentido do trabalho”, explica Luci Praun. Essa mudança se reflete com força no setor financeiro. Entre 2009 e 2017, segundo dados do INSS obtidos pelo Sindicato, o total de bancários que tiveram benefícios acidentário ou previdenciário cresceu 30%. Mais de 50% dos casos referem-se a transtornos mentais (aumento de 61,5%).
A precarização das relações de trabalho afeta todos os setores, inclusive o setor financeiro. A sobrecarga de trabalho, as metas abusivas e o assédio moral são alguns dos fatores responsáveis pelo aumento das doenças mentais nos trabalhadores. A legislação precisa proteger os direitos do trabalhador, e a luta dos sindicatos é na defesa destes direitos, visto que, a reforma trabalhista, propõe o contrário. É necessário que as atuais mudanças nas relações de trabalho sejam encaradas com a visão de proteger o trabalhador e não de acabar com as proteções já existentes para agravar a desestabilização dos empregos.
Com informações Sindicato dos Bancários de São Paulo