Vaza Jato: Dallagnol usou O Antagonista para interferir na presidência do Banco do Brasil
“Em troca da chapa-branca, Dallagnol fornecia informações privilegiadas”
Capítulo da Vaza Jato divulgado na segunda-feira 20/01 pelo site The Intercept Brasil mostra que os procuradores da Operação Lava Jato (Deltan Dallagnol à frente) usaram o site O Antagonista para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil no início do governo de Jair Bolsonaro.
No final de 2018, a força-tarefa da República de Curitiba municiou com documentos o site de Diogo Mainardi, Mario Sabino e Claudio Dantas, com o objetivo de alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro chegasse à presidência do banco. Monteiro, a propósito, era o nome mais forte entre os cotados para assumir o BB, até por escolha do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Mas a colaboração não começou ali. Segundo o Intercept, Diogo Mainardi, dono e editor do site, atendeu em 2015 a pedido de Dallagnol e suspendeu a publicação de notícias sobre um escândalo de corrupção envolvendo a Mossack Fonseca, escritório de advocacia suspeito de abrir empresas offshore no Panamá. Ainda de acordo com a reportagem assinada por Rafael Moro Martins, Rafael Neves, João Felipe Linhares e Glenn Greenwald, Mainardi também forneceu dicas de investigação a Dallagnol, que seguiu as pistas do jornalista e, em seguida, informou-o de que o caso estava fora da alçada da operação.
Diz o Intercept: “Em troca do jornalismo chapa-branca, Dallagnol passava informações privilegiadas ao site. Isso fica claro numa mensagem num chat privado de 30 de agosto de 2018, em que o procurador diz o seguinte, ao entregar em primeira mão a Claudio Dantas dados que haviam sido pedidos pelo jornal El País: “Nao estamos passando pra mais ng agora”. Tratava-se de uma resposta da operação a um depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran, um crítico da Lava Jato, na Espanha”.
Tudo começou em fins de 2015 com este diálogo travado em 28 de dezembro pelo aplicativo Telegram:
Deltan Dallagnol – 13:56:48 – Oi Diogo, como vai? Antes de tudo, desejo um excelente fim e começo de ano a Vc e família. Parabéns pelos furos do duplex e da Mosack. O colega que atua nisso na nossa FT é o Januario Paludo. Ele me pediu para entrar em contato com Vc e lhe pedir, por um bem maior do resultado do caso e em benefício do interesse social da investigação, que suspenda informações sobre a Mosack, pois veremos em janeiro o que dá para fazer em relação a isso. Compreendemos o lado jornalístico da divulgação, e Januario lhe fornecerá, assim que possível, informações sobre esse assunto de modo prioritário se Vc puder segurar essas informações, como uma forma de agradecer sua contribuição com o caso. Segue o telefone dele. Fique à vontade para contatá-lo diretamente:
Diogo Mainardi – 23:06:16 – Caro Dallagnol, como você sabe, só quero ajudar as investigações, por isso mesmo pedi ao meu pessoal para segurar todas as notícias sobre a Mossack.
Mainardi – 23:11:07 – Estou preocupado com o atraso na homologação da delação da Andrade Gutierrez. Publiquei que os executivos da empreiteira entregaram a campanha da Dilma e que o PGR preferiu ganhar tempo. Isso prejudica enormemente a Lava Jato
Dallagnol – 23:34:48 – Obrigado
Dallagnol – 23:38:00 – Acho que não é por aí. Também queremos que a PGR assine logo, porque a fila tem que andar (há outras pendências também), mas quanto aos fatos não há nada assim bombástico. Na PGR, como no STF, tudo demora. É o modo como o sistema funciona. Por isso que prerrogativa de foro é ruim. Atrasa o tempo da investigação
Mainardi – 23:50:04 – Me disseram claramente que Edinho Silva e Giles Azevedo pediram R$100 milhões para a campanha de 2014, por dentro e por fora. Isso é explosivo, sim.
No dia seguinte, a conversa continuou. Mainardi informou que a Lava Jato não precisava se preocupar: o site abandonaria os critérios jornalísticos e o interesse público pela conveniência da operação de Curitiba. E aproveitou para fazer um pedido aos investigadores:
Diogo Mainardi – 13:54:16 – Caro Dallagnol, nosso excelente repórter, Claudio Dantas, telefonou para o Paludo e eles já se entenderam
Mainardi – 13:56:36 – Se vocês esclarecerem o caso do apartamento do Lula (e também de seu sítio) muitas questões serão resolvidas
Deltan Dallagnol – 14:31:12 –
Dallagnol – 14:32:36 – Essa questão tem evoluido há um bom tempo, sob diferentes estratégias. Vamos ver aonde nos levará…
Cumprindo o acordo firmado com Dallagnol, O Antagonista não publicou nada a respeito da Mossack Fonseca até 26 de janeiro de 2016.
Em 21 de novembro de 2018, Dallagnol enviou ao grupo do Telegram “Filhos do Januario 3” uma reportagem da Folha de S.Paulo que citava a insatisfação de Onyx Lorenzoni com o então presidente da Petrobras, Ivan Monteiro. O procurador perguntou aos colegas sobre possíveis informações que pudessem prejudicar Monteiro. Após ordenar a assessores a busca por documentos contra ele, Dallagnol enviou quatro arquivos a Claudio Dantas, do Antagonista, que já vinha em campanha aberta para que Monteiro não tivesse assento no governo Bolsonaro.
Diz o Intercept: “Àquela altura, como deixam claro os diálogos, O Antagonista já publicara várias notas tentando implodir a nomeação de Monteiro no governo Bolsonaro – boa parte delas assinadas por Claudio Dantas. Ainda que o procurador Januário Paludo acreditasse que o então comandante da Petrobras era carta fora do baralho, Dallagnol preferiu se precaver (…) Dantas, no fim das contas, nunca postou o material que Dallagnol lhe enviou para incriminar Monteiro. Não seria preciso. Àquela altura, Guedes já escolhera Rubens Novaes para comandar o Banco do Brasil, como informou a Folha. A ala política comandada por Onyx Lorenzoni, o amigo de Dallagnol, venceu. Com ajuda da Lava Jato”.