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Mulheres em 2020: muitas lutas e poucas conquistas
São tantas as questões possíveis de abranger ao falar das mulheres que fica muito difícil falar em uma categoria, uma etnia ou um grupo específico. Somos negras, índias, brancas, urbanas, campesinas, mães, mães e pais, trabalhadoras, professoras, alunas, empreendedoras, militantes, políticas… carregamos nas veias o sangue que constituiu o povo brasileiro, o desejo de liberdade, a perseverança e o orgulho de sermos Mulheres. E afinal, o Planeta é feminino, nossa mãe Terra, ou Gaia, é a maior prova do nosso poder e da nossa força. Assim como ela, somos vítimas diárias de violência, somos abusadas, agredidas, violadas, marcadas a ferro e fogo como gado e, por fim, quando percebem que nada disso nos cala ou nos para, somos MORTAS.
Então, nesse 08 de março de 2020, vejam só, em pleno século 21, quero destacar números que parecem nada dizer à sociedade brasileira, inclusive a mulheres que têm a sorte de não sentir a violência na própria pele. Em 2019, foram registrados quase 3800 casos de crimes dolosos contra mulheres; desses, 1314 foram considerados como feminicídios (o que pode ser questionado). Um número 7% maior que o de 2018. Isso significa que a cada 7 horas uma mulher é morta no Brasil, simplesmente por ser mulher! Mesmo com o endurecimento das penas em casos de feminicídios, o número só aumenta a cada ano.
Temos mais informações, penas mais duras, campanhas de esclarecimento e alerta, o número 180 para denúncias, as delegacias especializadas para atendimento a mulheres (que infelizmente estão funcionando de forma parcial), medidas protetivas e mesmo assim a violência contra nós não diminuí! Você já pensou por quê? Penso eu, que vivemos em um país extremamente machista e, me desculpem os que pensam diferente, muito atrasado. Aqui, a intolerância virou bandeira. É bacana discordar de tudo e ofender quem pensa diferente. É engraçado dizer que mulher só fica de “mi mi mi”, isso dito por homens e mulheres também, triste…
Mais triste é ver que as poucas políticas públicas que tínhamos para tentar reverter esse cenário estão engavetadas por falta de recursos e por falta de vontade. O Presidente da República faz piadas de mau gosto e em tom pejorativo quando se refere a mulheres, batem palmas e dão risadas seus cupinchas; inclusive, o fez na campanha política, citando a própria filha como um “erro de cálculo” e é ovacionado; e nem vamos falar dos seus amados meninos envolvidos com milícias, e estas, por sua vez, envolvidas no assassinato de Marielle Franco.
Em nossa cidade, temos uma Prefeita, uma mulher ocupa o cargo mais importante de um município que tem 174 mil mulheres (censo IBGE 2010). O que ela fez em 3 anos para diminuir as tristes estatísticas de violência contra a mulher em Pelotas? Sem falar dos 4 anos como vice prefeita… Por aí já percebemos que falta sororidade, ou seja, empatia e união entre as mulheres.
Os homens, por sua vez, foram e ainda são criados para serem os dominantes, os “chefes” da família, os que provêm materialmente, portanto ditam as regras. Espere aí! Isso parece coisa do tempo da minha mãe, mas não é! É super atual. A esposa é propriedade. Não é uma parceira, uma companheira de vida. É a que tem que cuidar da casa, educar os filhos (a clássica frase “teu filho fez isso…” , mas o filho é dos dois!). Essa mulher “pode” trabalhar fora, pois tem tempo sobrando, mas não pode ganhar mais do que o marido; se não se veste bem, é desleixada, se se veste bem está “sobrando” pra alguém ou gastando demais o dinheiro que é dela… E dessas coisas que parecem tão pequenas, começa a nascer um monstro, e esse monstro se não for detido na primeira vez que atacar, cria forças, ataca mais brutalmente e até mata. Então, além das campanhas, das medidas protetivas, da sororidade, precisamos identificar o agressor e dar um basta. Se nossa amiga, colega, parente, não consegue denunciar, nós não podemos fechar os olhos, temos que tomar uma atitude antes que seja tarde demais. Construir uma rede de apoio que possa salvar e proteger a todas e a cada uma. Que “Nem uma a Menos” seja o lema de homens e mulheres nesse ano, para que em 2021 possamos comemorar a queda desses números trágicos e vergonhosos. Resistência e dignidade, sempre!
*Marlise Souza é Diretora do Sindicato dos Bancários de Pelotas e funcionária do Banco do Brasil