Bancos usam Covid para fechar agências e deixam 42% das cidades sem atendimento
Foto: Prefeitura Municipal de Caruaru
O fechamento de agências bancárias, privilegiando o atendimento virtual, deixa 2.340 cidades do país sem atendimento
As imensas filas que se formam todos os dias nas portas das agências bancárias para sacar o auxílio emergencial revelaram um grande problema: a precarização do atendimento presencial expulsou o povo pobre e mais carente de um serviço considerado essencial, como o bancário.
Apesar do caos e do perigo de contaminação da população, que se aglomera em frente às agências, os bancos aproveitaram a crise aprofundada pelo coronavírus e aceleraram o fechamento de 194 agências, entre março e abril. Desde o início do ano foram fechadas 283. Com isso, 2.340 dos municípios brasileiros (42%) ficaram sem, sequer, uma agência bancária.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, diz que a Covid-19 só acelerou o processo dos bancos de forçar a população ao uso de aplicativos, o que deixa à margem de um serviço público essencial milhares de pessoas. “Não precisa ir longe dos grandes centros para se perceber que a população não tem acesso a uma boa rede. Nos extremos da zona sul e da zona leste da capital de São Paulo não há torres de internet. Não pega, nem 3G, nem 4G. Em Carapicuíba [região metropolitana] não tem fibra ótica. Imagine como é no restante do país”, critica a dirigente.
A precariedade do acesso à internet é comprovada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, em sua última pesquisa, mostrou que 20,9% das residências brasileiras não tinham internet em 2018. Já segundo o BC, as transações virtuais cresceram 12,48%, de 2014 a 2018.
A presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro Contraf/CUT, Juvandia Moreira, diz que o fechamento de agências bancárias não é só pela Covid, mas faz parte de um processo de longa data.
“As aglomerações do lado de fora só estamparam o problema porque as filas ficavam dentro das agências. Antes, havia 20 bancários para atendimento presencial. O movimento sindical chegou a flagrar apenas um funcionário trabalhando, que mal conseguia ir ao banheiro ou almoçar”, afirma.
De acordo com Juvandia, somente o Banco do Brasil fechou mais de mil agências em todo o país. O Santander, Itaú e Bradesco fecharam outras centenas.
O sucateamento do atendimento nas pequenas cidades
Relatórios do Banco Central mostram que, entre 2016 e 2019, foram fechadas 2.853 agências em todo o país. No mesmo período, o número de municípios brasileiros sem agência, caixa eletrônico ou ponto de atendimento, seja dos Correios ou lotéricas, que prestam serviços bancários à população, chegou a 376 – um aumento de 7,12%. Em 2012, eram 147 cidades sem nenhum tipo de atendimento – 60% menor do que hoje.
“Quem atendia os pequenos municípios eram os bancos públicos federais e regionais, o Basa [Banco do Estado da Amazônia], o Banpara [Banco do Estado do Pará]. Agora a população dos pequenos municípios é a que mais sofre. É ela que tem de ir para outras cidades porque os bancos querem apenas atender os municípios mais rentáveis, e o fechamento de postos de atendimento piora ainda mais essa situação. Basta ver as longas filas para receber o auxílio emergencial”, diz Ivone Silva.
Além do fechamento de agências bancárias, há cidades que ficaram também sem os correspondentes bancários (lotéricas e agências dos Correios). O relatório de Cidadania Financeira do Banco Central mostra que entre 2018 e 2019, os correspondentes bancários passaram de 191 mil para 180 mil- uma diminuição de 5,6%. Desde 2014, a queda chegou a 10%.
Ainda segundo o estudo, em 2017, foram desativadas 403 unidades do Banco Postal, instaladas em agências dos Correios, por causa de uma onda de assaltos.
“A onda de assaltos foi uma desculpa para fechar os bancos postais, agora os bancos usam a Covid para dar prosseguimento ao plano de obrigar a população a usar aplicativos, mesmo que elas não tenham acesso à rede e nem saibam utilizar a internet e, o resultado, é claro, é o fechamento de agências”, critica Ivone da Silva.
Fonte: CUT