‘Depois ninguém vai assumir o erro’, diz médico sobre volta da cogestão e de medidas menos restritivas
O anúncio do governador Eduardo Leite (PSDB) de retomada da cogestão no modelo de Distanciamento Controlado, cujo resultado prático permite que as prefeituras adotem restrições de bandeira vermelha mesmo estando em bandeira preta, foi mal recebido por médicos e pesquisadores que estudam a crise causada pelo coronavírus.
Nos últimos 15 dias, todo o comércio considerado não essencial teve que ficar fechado, como forma de diminuir a circulação de pessoas e, consequentemente, o contágio pelo vírus, no momento em que o sistema de saúde está em colapso, com UTIs superlotadas e emergências fechadas.
Leite justifica a decisão dizendo que os indicadores de ocupação hospitalar começaram a reduzir de velocidade no Estado. “O volume de pessoas internadas neste momento ainda resultará, infelizmente, em mais óbitos, mas os dados da demanda de internações já demonstram redução da circulação do vírus”, afirmou, acrescentando que tal redução é consequência das duas semanas e meia de restrições mais severas no RS.
“Do ponto de vista médico, é inexplicável”, afirma Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O médico projeta um cenário “mais mortal e sombrio” a partir da perspectiva de reabertura das atividades econômicas, o que pode acontecer já na próxima segunda-feira (22), justamente no momento mais grave da crise sanitária.
“Vai se morrer em casa. E se tiver leito, não existe mais como garantir um bom atendimento, não tem mais como manter uma boa qualidade assistencial. Não tem mais o que ser feito nos hospitais. Falta equipamento. Se não faltar equipamento, faltam profissionais. E se não faltar profissionais, falta qualidade no atendimento”, explica o médico, responsável pelos testes clínicos no Hospital de Clínicas com a vacina de Oxford/AstraZeneca.
Sprinz enfatiza que medidas restritivas da economia ou mesmo algo mais incisivo, como o lockdown, devem ser feitas por um período curto e com as pessoas tendo condições de ficar em casa para que a impossibilidade de trabalhar seja cumprida. Porém, os governos não têm oferecido essa contrapartida.
Com o sistema de saúde em colapso, Sprinz diz que a ideia de insistir na criação de mais espaço físico nos hospitais terá como consequência apenas as pessoas morrerem dentro das instituições.
Fonte: Sul 21, com edição SEEB Pelotas e Região
Foto: Silvio Avila/HCPA