Prateleiras vazias e preços nas alturas: as consequências do ‘tarifaço’ de Trump nos EUA
Alerta foi dado ao presidente dos EUA por grandes varejistas, como Walmart e Target, em reunião na semana passada
A guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá consequências para a população estadunidense semelhantes ao que ocorreu durante a pandemia de Covid-19. Em reunião com o republicano na semana passada, grandes redes varejistas, como Walmart e Target, alertaram para a falta de produtos nas prateleiras e preços nas alturas nos próximos meses.
Isso porque, desde que os EUA elevaram as tarifas sobre a importação de produtos da China para 145% no início de abril, a chegada de produtos chineses ao mercado norte-americano despencaram na casa dos 60%.
Trump muito provavelmente não contava com a postura do governo chinês diante do tarifaço. A China, até o momento, é o único país a revidar à altura. Se o republicano queria forçar uma negociação, o tiro saiu pela culatra. O líder chinês, Xi Jinping, não se curvou às investidas do republicano.
Até o momento, os norte-americanos ainda não sentiram a redução no fluxo de mercadorias chinesas, mas, conforme a estimativa de varejistas, esse cenário deve mudar, pois as empresas norte-americanas precisarão reabastecer seus estoques até meados de maio.
Mesmo com os sinais dados pelo próprio Trump de que pode flexibilizar as tarifas impostas à China, especialistas calculam que pode ser tarde demais para reverter o impacto, uma vez que algumas empresas norte-americanas só existem porque dependem majoritariamente da importação de produtos chineses.
Na segunda-feira (28), o secretário de Tesouro dos EUA, Scoth Besset, afirmou que “cabe à China reduzir a escalada” na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Trump chegou a dizer em uma entrevista na semana passada que teria conversado com Xi por telefone. Porém, o governo chinês negou a informação, afirmando que, por ora, não há nenhuma negociação na mesa.
Medidas de Trump geram cenário desafiador como na época da pandemia
Uma possível flexibilização das tarifas deve provocar impactos no comércio transpacífico, pois a indústria de frete reduziu sua capacidade para se ajustar à demanda mais fraca. Uma retomada agora significaria sobrecarregar a rede, causando atrasos e aumentando os custos.
Esse cenário ocorreu, por exemplo, durante a pandemia de Covid-19, que provocou aumento exorbitante nos preços dos contêineres e congestionamento nos portos por excesso de navios cargueiros.
À agência Bloomberg, Lars Jensen, CEO da consultoria de transporte marítimo Vespucci Maritime, disse que “haverá um aumento nos portos e, consequentemente, para os caminhões e trens, criando atrasos e gargalos”, disse. “Os portos são projetados para fluxos estáveis, não para os deslocamentos de volume intermitentes”, completou.
Segundo a reportagem da Bloomberg, houve uma queda de 40%, desde o início de abril, do fluxo de navios com carga da China para os EUA. São 40 navios carregando cerca de 320 mil contêineres, cerca de um terço a menos da quantidade existente assim que Trump anunciou que aumentaria as tarifas sobre quase todos os produtos da China para 145%.
As redes varejistas dos EUA começam a aumentar seus estoques entre os meses de março e abril para as vendas do segundo semestre. Neste ano, foram nesses meses que começaram a vigorar as sobretaxas de Trump, ou seja, um momento bastante crítico para essas empresas.
Para muitas delas, os primeiros produtos para o Natal devem estar a caminho dos EUA em cerca de duas semanas.
Alternativas
Com as medidas em vigor, alguns clientes dessas empresas já começaram a pausar pedidos e a expectativa é de que, caso as tarifas contra a China persistam, haja cancelamentos.
Outros varejistas estão recorrendo a fornecedores de países do Sudeste Asiático, como Camboja, Tailândia e Vietnã. para driblar o aumento das tarifas a produtos chineses.
Ainda assim, muitos já preveem desaceleração significativa no comércio transpacífico, com impactos para o setor de transporte de cargas.
Em abril, segundo a reportagem da Bloomberg, houve cerca de 80 cancelamentos de viagens da China para os EUA, aproximadamente 60% a mais do que qualquer mês durante a pandemia de Covid.
A OMC (Organização Mundial do Comércio) alertou que os bens negociados entre os EUA e a China podem diminuir até 80%.
Foto: Reprodução – ICL
Fonte: ICL