Frei Beto em Pelotas: “Estamos colhendo o que não plantamos”
Ao lado do escritor Fábio Régio Bento, o frade dominicano falou sobre os caminhos para o campo progressista na atual conjuntura
No final do mês de novembro, Pelotas recebeu a visita de um dos mais importantes intelectuais do campo progressista latino-americano. Em atividade realizada na ASUFPEL, para o lançamento do livro “Frei Betto e o Socialismo Pós-Ateísta”, de autoria de Fábio Régio Bento, Frei Betto disse que “estamos colhendo o que não plantamos”.
Em sua análise crítica do momento político que estamos vivendo, o intelectual se referiu a três erros que julga determinantes para a derrota das forças progressistas na última eleição, levando à ascensão da extrema direita no país: a não realização da alfabetização política, a viabilidade apenas de acesso aos bens de consumo (e não aos bens sociais) e a política de alianças com banqueiros, rentistas e grandes empresários.
Segundo Frei Beto, deveríamos ter priorizado o acesso aos bens sociais, como fez a Europa no início do século XX. “Aqueles que possuem acesso aos bens sociais – como saúde, educação, transporte, saneamento e cultura – chegam mais facilmente aos bens pessoais”, disse o frade. Para ele, o resultado desses equívocos, nos governos petistas, produziram “uma nação de consumistas e não de cidadãos, protagonistas de suas histórias”.
A tentativa de garantir a governabilidade, “por cima”, na opinião de Frei Beto, foi o erro estratégico que está custando mais caro. “Deveríamos ter seguido o exemplo de Evo Morales, na Bolívia, que não tendo o apoio do Congresso, assegurou a governabilidade por baixo, com a mobilização dos movimentos sociais, cujos líderes foram, progressivamente, ocupando as cadeiras no legislativo”, criticou.
Frei Betto disse lembrar da dificuldade dos movimentos sociais terem acesso a alguns ministros, durante os governos petistas, enquanto banqueiros e grandes empresários possuíam livre trânsito em ministérios como o da Comunicação, cujo financiamento recebido, via propaganda governamental, contrastava com o esforço hercúleo dos veículos de mídia alternativos para poderem se manter. Na visão do frade dominicano, agora é hora de ser feito esse balanço e voltar ao trabalho de base. “Eu deixo, aqui, como mensagem que eu quero partilhar com todos vocês, vamos voltar à base. É muito importante a gente reforçar qualquer tipo de organização popular. E guardemos o pessimismo para dias melhores, enfatizou”
O evento foi promovido pela Nomos – Editora e Produtora Independente, mas contou com o apoio de diversas estudantis e sindicais, incluindo o Sindicato dos Bancários.
Imprensa Seeb Pelotas-RS