Chile: protestos contra alta do custo de vida continuam após exército ir para a rua; 7 mortos

O domingo (20) foi de ataques violentos das forças policiais do Chile contra manifestantes, em vários pontos da capital, Santiago, e em outras cidades do país, como Valparaiso e Concepción. Protestos populares voltaram a ser realizados, mesmo após o presidente Sebastián Piñera ter declarado, no sábado anterior, que havia revogado o aumento do preço das passagens do metrô de Santiago – a medida foi a principal razão para o início da onda de manifestações, as mais violentas desde o retorno da democracia após o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Até a noite do domingo, sete pessoas haviam morrido e 1.462 foram detidas.

Um novo “panelaço” de manifestantes iniciado na manhã foi alvo novamente de repressão violenta das forças especiais da polícia e militares, com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d’água. Há relatos e imagens de bombas lançadas contra pessoas dentro de vagões do metrô.

A violência da repressão contra os protestos provocados pelo aumento do preço das passagens do metrô de Santiago começou na sexta-feira, e deixou um cenário de destruição, com ônibus queimados, semáforos destruídos, lojas e mercados saqueados e muitos destroços. Há risco de crise de abastecimento à população e relatos de que, em alguns bairros de Santiago, os moradores se organizam para proteger suas próprias casas de saques.

#ChileAcordou

A reação ao aumento das passagens de metrô detonou a insatisfação ao modelo econômico que impõe à população que o acesso a direitos básicos como saúde e educação seja praticamente privado, com alta de taxa de endividamento, elevada desigualdade social, valores de aposentadorias insuficientes para garantir a dignidade de ex-trabalhadores e constante alta do preço dos serviços básicos, como eletricidade e água.

Aos gritos de “basta de abusos” e com a hashtag “#ChileAcordou” praticamente dominando as redes sociais do país, as manifestações são espontâneas, o movimento não tem lideranças definidas – como sindicatos, movimentos sociais ou partidos – e também não apresenta uma lista de reivindicações.

Até o momento aparece como uma crítica generalizada a um sistema econômico neoliberal que, por trás do êxito aparente dos índices macroeconômicos, esconde um profundo descontentamento social.

“O preço da passagem foi a gota que transbordou o copo. Estamos lutando por salários dignos, saúde de qualidade, que não aumentem os serviços de abastecimento, que não nos tirem nossas economias, que não manipulem os anos de trabalho dos nossos pais e avós”, disse Francisca Pino, uma das jovens manifestantes entre centenas nos dois principais focos de protestos, Plaza Italia e Plaza Ñuñoa, na tarde de ontem, em reportagem publicada pelo Jornal GGN.

Para a aposentada Adelina, “não é só a passagem, é a nossa velhice que está em jogo, são as AFPs [sistema capitalizado de previdência], o aumento das contas, da luz dependente da dolarização, são tantas coisas”. “As lutas começaram pelo preço das passagens, mas agrandaram pela repressão. A luta contra a repressão é uma das consignas mais sentidas pelos estudantes e pela juventude, porque revisa a memória dos nossos pais e nossos avós na luta contra a ditadura. Por isso é uma juventude que não se deixa reprimir”, resumiu o manifestante Mário Olguin, na mesma reportagem.

“O detonante das manifestações foi um novo aumento do transporte público na capital, que desembocou em um protesto simbólico de evasão das passagens como forma de luta. Entretanto, ao trazer à tona o sentimento de injustiça dos chilenos, começou uma revolta social popular contra todos os abusos constantes, tanto dos políticos, como dos empresários, num país onde há muitos anos os problemas estavam visíveis, mas nunca se tomaram medidas em defesa das pessoas, nem puniram os abusadores da mesma forma como são castigados os pobres”, explicou a jovem Florencia Anconetani.

Foto: Exército do Chile/Fotos Públicas

Fonte: RBA

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