Um mês para marcar a luta internacional das mulheres
Atividades organizadas pelo 8M, em Pelotas, denunciaram opressão, pediram justiça para Marielle e exigiram a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão
Com uma extensa programação para este mês de março, o 8M, em Pelotas, concentrou dois grandes atos nos dias 7 e 8. Durante o sábado (7), as mulheres estiveram reunidas no chafariz do Calçadão da rua Andrade Neves. A bateria, que tomou conta do centro da cidade, reivindicou o legado histórico de todas as mulheres que, ao longo da história, precisaram – e ainda precisam – lutar por respeito, melhores condições de trabalho e contra a violência de um Estado opressor e de uma sociedade machista.
Para a diretora do Sindicato dos Bancários, Marlise Souza, que se fez presente nas atividades, “infelizmente, nesta data, não se tem muito o que comemorar”. Ela alerta para a falta de avanços em questões como a igualdade salarial e de gênero e denuncia os alarmantes casos de feminicídio, que decorrem da violência contra as mulheres por todo o país. Em Pelotas, considerando apenas os crimes assim tipificados e registrados junto à Secretaria de Segurança Pública, foram três mortes por feminicídio em 2019. Considerando todo o estado do Rio Grande do Sul, este número aumenta para 97 casos consumados. Já em relação às tentativas de feminicídio, o número sobe para 359. As ameaças, lesões corporais e estupros são ainda mais recorrentes. Um dado de 2011, divulgado pelo Ministério da Saúde, revela a gravidade da situação: a cada 10 minutos, uma mulher é vítima de estupro no Brasil, e apenas 10% dos casos são solucionados.
Pelo fim da violência contra a mulher
“A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer”, cantavam as mulheres – em alto e bom tom –, no sábado pela manhã, enquanto dialogavam com as transeuntes e convidavam a todas para que se informassem sobre os seus direitos e acompanhassem uma exposição fotográfica promovida pelo Instituto Mário Alves (IMA). A mostra “Mulheres em Luta” retratou uma série de momentos históricos da luta feminista por direitos sociais, participação política e pela democracia. De acordo com uma das coordenadoras do IMA, Solaine Gotardo, “algumas imagens evidenciam a organização das mulheres desde as primeiras greves até a afirmação de conquistas, como o direito à voto”.
Foram lembrados diferentes contextos de representação, atuação e resistência feminista; como no caso da Revolução Civil Espanhola, da guerrilha nicaraguense e da ditadura militar brasileira. Além disso, estiveram representadas as lutas das mulheres indígenas, camponesas, negras, militantes e intelectuais, bem como a ocupação de distintos espaços no mercado de trabalho. “São registros importantes porque mostram, em um plano histórico, o protagonismo das mulheres em momentos decisivos, que resultaram nas conquistas de hoje”, explica Solaine. É o caso do 8 de março de 1917, onde a greve das mulheres operárias de Petrogrado pedia o fim da I Guerra Mundial, o aumento de salário e o fim das injustiças e desigualdades que, ainda hoje persistem.
Ao final da manhã de sábado, elas saíram em marcha pelas ruas da cidade, denunciando a opressão que sofrem, diariamente, e convocando as mulheres trabalhadoras para o ato que se seguiu no domingo, dia 8, com a tomada do Altar da Pátria, na Avenida Bento Gonçalves. Denunciando os ataques misóginos do atual presidente da República, as mulheres exigiram a cassação do mandato da chapa Bolsonaro-Mourão. Para a vereadora Fernanda Miranda (PSOL), que se fez presente nos dois dias de manifestação, é preciso que as mulheres se conscientizem de que os ataques do governo, por meio das reformas do Estado brasileiro, atingem, principalmente a elas – e mais ainda, as mulheres negras.
“Ele não pode continuar. Bolsonaro não pode continuar. Nós mulheres, fomos as ruas para dizer que ele não poderia assumir. Agora, estamos aqui, novamente, procurando conscientizar outras mulheres do quanto os governos de direita e extrema-direita enfraquecem a democracia, a luta por justiça e a emancipação das mulheres, porque a gente sabe que, em uma crise, quem perde direitos são as mulheres. Nosso ato pede justiça para a nossa companheira Marielle Franco, que foi assassinada por representar tantas mulheres e homens da periferia e agir em defesa de causas sociais, contrariando interesses escusos e lutando pelos nossos direitos”, denunciou.
Texto e imagens: Eduardo Menezes – Assessoria de Comunicação do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região