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Bolsonaro aposta na ‘velha política’ e nos militares para se salvar do impeachment
No final da semana passada, ao mesmo tempo em que articulava a saída do então ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro buscava se aproximar dos partidos que compõem o “centrão”. Após ter cometido uma série de crimes de responsabilidade, ele também se aferra ao apoio dos militares para tentar escapar do processo de impeachment que se aproxima.
Para o professor de Ciências Políticas da USP André Singer, a aproximação com o centrão deve custar caro a Bolsonaro, pois entra em contradição com o discurso adotado de suposto combate à chamada “velha política”. Por outro lado, a participação dos militares da ativa na política deve custar caro à democracia.
Singer afirma que o impeachment “deve se impôr”, porque Bolsonaro “ultrapassou a linha vermelha” ao participar, mais de uma vez, de atos pedindo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Soma-se agora a tentativa de interferência política na Polícia Federal (PF), conforme delatada por Moro.
“Pedir o fechamento do STF e do Congresso significa, na prática, destruir a democracia brasileira. Agora vimos o ministro da Justiça fazer acusações de que o presidente queria instrumentalizar a PF. Vemos um acúmulo de motivos de crimes de responsabilidade bastante caracterizados”, afirmou às jornalistas Talita Galli e Marilu Cabanãs, para o programa especial Bolsonaro em Ruínas, transmitido pela TVT e pela Rádio Brasil Atual no último domingo (26).
Segundo Singer, a expectativa é sobre como devem reagir as instituições contra os arroubos do presidente. Ele lembra que, para a abertura do processo de impeachment, será fundamental a atuação do presidente do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Mourão não é solução
Para a cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida, ainda não é possível saber exatamente a perda de apoio político a Bolsonaro após a saída de Moro. Ela diz que as pressões populares são importantes, mas a decisão sobre um provável processo de impedimento está nas mãos dos líderes políticos do Congresso.
O problema, segundo ela, é que o afastamento de Bolsonaro significaria a “ascensão definitiva” dos militares. “Bolsonaro não exerce a presidência. Ele não é um presidente, nem nunca foi. Provavelmente cometeu atos que justifiquem seu impedimento. É muito provável que se caminhe na direção. Mas não acredito que o impedimento seja uma solução muito positiva para o Brasil. É ruim com ele, e vai ser ruim sem ele também.”
Para Maria Hermínia, ainda que os militares que ascenderiam junto com o vice Hamilton Mourão sejam “menos descontrolados e, provavelmente, menos corruptos” do que Bolsonaro, ainda assim, estaríamos de diante de um governo de direita, tal qual o atual.
A cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral, que resultaria em novas eleições, é, segundo, ela, “um sonho de uma noite de verão”, quando, na verdade, é o inverno que se aproxima. “Temos que nos preparar para tempos difíceis do ponto de vista da agenda política e das demandas dos setores mais discriminados e desprotegidos.
Assista na íntegra o especial Bolsonaro em Ruínas, transmitido pela TVT e pela Rede Brasil Atual.
Fonte: Sul21
Foto: Carolina Antunes/PR