Anvisa responde a Bolsonaro: decisões sobre vacina serão científicas
O presidente Jair Bolsonaro escreveu, ontem (21), mais um capítulo do roteiro se sua gestão desastrosa da pandemia de covid-19. Questionado por seguidor de rede social, e inflamado por questões ideológicas e políticas, atacou a vacina mais promissora até o momento. “Não será comprada (…) Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse sobre a CoronaVac, produzida pela empresa chinesa Sinovac. “Meu governo não mantém diálogo com João Doria sobre covid-19”, disse. A Anvisa reagiu e, depois da fala de Bolsonaro, afirmou que respeitará todas as pesquisas de vacina em andamento no Brasil.
Bolsonaro possui ideologia subordinada aos Estados Unidos, por isso carrega algo parecido com “pirraça” contra o maior parceiro comercial do Brasil, a China. Além da ideologia de submissão, aversão tem também contorno político partidário. , já que a pesquisa para produção da CoronaVac no Brasil é feita em parceria com o Instituto Butantã, em São Paulo – órgão ligado ao governo de São Paulo e ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O governo federal aposta suas fichas na negação da ciência, com a comprovadamente ineficaz hidroxicloroquina, defendida com fervor pelos bolsonaristas. O presidente chegou a dizer hoje que “a vacina precisa de comprovação científica para ser usada, e que não é como a hidroxicloroquina”.
Anvisa: covid-19 é prioridade
A posição de Bolsonaro sobre a vacina, porém, será confrontada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Depois de sua intervenção de cunho ideológico, partidário e negacionista, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, manifestou que a covid19 é “prioridade da agência”.
Afirmou ainda que toda decisão em tornos das quatro pesquisas sobre vacinas em andamento no Brasil, não será alvo de “alteração, influência e pressão” que não seja da ciência. Torres, interino no comando da Anvisa desde janeiro, foi confirmado, na última terça-feira (20), no cargo pelo Senado. A agência, em tese, tem autonomia em relação ao governo e seu comando não está exposto ao risco de demissão.
Bolsonaro privilegia a vacina da farmacêutica AstraZeneca, em parceria com a universidade britânica de Oxford. Esta vacina – também em estágio avançado de pesquisa – teve um grande revés hoje, em decorrência da morte de um paciente cobaia em São Paulo. O paciente morreu por complicações da covid-19. Mas não há confirmação se ele tomou, de fato, a vacina com o princípio ativo ou se a dose fazia parte do grupo que tomou placebo. A prática é comum em estudos do tipo. Para confirmar a eficácia de um medicamento, parte dos voluntários toma um composto inerte, um placebo. A Anvisa sugeriu, então, que a fatalidade não deve comprometer a continuidade dos estudos.
Ao negar a compra da CoronaVac, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo. O militar havia confirmado a compra de 46 mil doses da vacina, e anunciou acordo com o estado de São Paulo. “Qualquer coisa publicada, sem comprovação, vira traição”, atacou Bolsonaro, cobrado por seguidores se o governo salvaria vidas usando medicamento da “ditadura chinesa”.
Fonte: Rede Brasil Atual, com edição Seeb Imprensa Pelotas
Foto: Alan Santos/PR