Situação dramática no Banrisul: prova de vida sobrecarrega funcionários e expõe aposentados e pensionistas
Mesmo com a suspensão da exigência da prova de vida, até o final deste mês de novembro, conforme havia divulgado o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), ainda em outubro, muitos aposentados e pensionistas têm procurado as agências bancárias para realizar o procedimento com receio de perder o benefício.
Funcionários à beira de um colapso
Todos os dias, a agência do Banrisul, localizada no bairro Fragata, tem recebido um grande contingente de pessoas, que pretendem realizar o procedimento, mas, devido à diminuição do quadro de funcionários, mesmo que aqueles que estão atuando na linha de frente trabalhem acima do limite, muitos clientes não têm conseguido atendimento.
Ao todo, são distribuídas 40 fichas, diárias, para a realização da prova de vida, a partir das 10h da manhã. “Não temos como realizar mais atendimentos. Estamos à beira de um colapso. Seria preciso que o banco ficasse aberto até às 22h. Teve um dia, na parte da manhã, que atendi 60 pessoas, das 10h às 12h45”, desabafa o diretor do Sindicato, Roger Carré, que trabalha na agência.
Esgotados, os bancários se expõem, cada vez mais, ao risco de contágio. Embora não tenha nenhum caso de coronavírus confirmado, na Agência Fragata, o Banrisul já tem 12 trabalhadores contaminados, na cidade, que atuam em outras agências. Além disso, segundo o último levantamento da Vigilância Epidemiológica, o bairro Fragata é o que possui maior número de moradores infectados pela Covid-19, no município.
Grupo de risco exposto
A situação torna-se ainda mais dramática, no local, considerando as longas filas que têm se formado para a realização da prova de vida, já que aposentados e pensionistas se expõe, todos os dias, não só à contaminação, mas às más condições climáticas, ao cansaço, e outras circunstâncias perigosas, mesmo estando no grupo de risco.
Além da exposição ao vírus e do intenso calor, nas filas extensas em que dezenas de idosos são obrigados a aguardar, a aposentada Teresinha Inácio relata que, na última segunda-feira (23), passou por uma situação ainda mais grave. Um pouco antes de começar a distribuição das fichas, segundo ela, uma escada de metal teria caído próximo ao local onde estava aguardando atendimento, junto com outras pessoas. “Quando percebi que a escada podia cair me afastei um pouco, porque ela estava solta e não tinha nenhum isolamento do local”, denuncia a aposentada.
Ao comentar a situação, o esposo de Teresinha, Ricardo Nunes Lehmann, diz lamentar que os idosos estejam precisando se expor à uma situação dessas. “A gente fica, aqui, aguardando que tenha uma alternativa por parte do banco para que as pessoas não se submetam à tudo isso”, diz. Há quatro dias, o casal tem procurado a agência na tentativa de realizar a prova de vida, mas, somente nesta quarta-feira (25), conseguiram agendar o atendimento para as 14h30min.
Sucateamento do banco reflete no atendimento
Dezenas de outras pessoas enfrentam a mesma situação do casal. Quem ocupava os primeiros lugares, na fila, na manhã desta quarta-feira (25), relata ter chegado ao local por volta das 5h da manhã. “Eu agendei o procedimento, há um mês, pelo site do banco, e disseram que iriam me ligar para que fosse realizado o atendimento numa terça ou quinta, mas não ligaram”, critica a pensionista Sandra Mara Leandro Pereira, que não conseguiu a ficha para receber o atendimento hoje. Ela diz que, como não conseguiu resolver a questão pelo site, acabou tendo que ir até a agência e enfrentar a fila.
Os problemas enfrentados, no Banrisul, refletem a falta de compromisso do governo Eduardo Leite em suprir as carências estruturais e de pessoal que já eram evidenciadas antes mesmo da crise sanitária, com o objetivo de sucatear o banco e vendê-lo para a iniciativa privada, seguindo a mesma linha privatista do governo Bolsonaro, cuja prioridade não é atender os anseios da população mais carente. Na avaliação do diretor do Sindicato, João da Silveira, que é, também, funcionário do Banrisul, o governo federal já era para ter suspendido a prova de vida o ano inteiro. “A população já não está mais confiando, porque, a cada mês, a exigência do procedimento é prorrogada, causando incerteza nas pessoas, que temem perder o benefício, caso não realizem a prova de vida”, diz.
A direção do Sindicato entende que o banco precisa tomar alguma atitude para solucionar o problema e cumprir o seu papel social. “Não interessa por que as pessoas estão vindo, se estão mal informadas, ou não. O fato é que elas têm procurado a agência, por estarem com medo de perder o seu benefício, e estão sendo mal atendidas”, critica João.
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Redação e Fotos: Eduardo Menezes – Seeb Pelotas