Sem sair da primeira onda de covid-19, Brasil já enfrenta a segunda

O atual estágio e as projeções para o cenário da pandemia de covid-19 no Brasil, frente à insistência do governo de Jair Bolsonaro em tratar a crise sanitária como “gripezinha”, além dos caminhos e desafios impostos ao SUS. Estes foram os temas principais de um debate virtual que compôs o Primeiro Congresso Científico da Faculdade Integrada Cete (FIC), realizado na noite da última quinta-feira (26).

Para o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Amazonas (Fiocruz) Jesem Orellana, o doutor em Saúde Pública Francisco de Assis Santos e a doutora em biomedicina Ana Catarina Rezende, as grandes cidades do país já enfrentam “a retomada do crescimento do novo coronavírus”, a anunciada segunda onda, sem terem saído completamente da primeira, iniciada em março passado.

Durante o debate “Quais as Possibilidades e Caminhos do SUS com a Covid-19”, foi lembrado que o Brasil é o segundo país com mais mortes pela covid-19 no mundo, mais uma entre todas as informações sobre a doença desdenhadas pelo presidente Jair Bolsonaro desde o primeiro dia de pandemia. Ontem mesmo, Bolsonaro disse que nunca chamou a covid-19 de “gripezinha”. Mentiu. Disse abertamente, e muito mais, inclusive em discurso em rede nacional no dia 24 de março.

Descaso

Os especialistas citaram também que o Brasil é o país que permaneceu por mais tempo no topo da curva epidemiológica, mais de 14 semanas consecutivas, até que os números entrassem em um platô de estabilidade e ligeira regressão, ainda que em níveis elevados, no número diário de vítimas, especialmente a partir de outubro. E, a partir daí, viu-se a flexibilização acelerada das medidas de distanciamento e isolamento social.

O resultado do descaso e da falta de coordenação do governo Bolsonaro no enfrentamento da covid-19 aponta para o desastre. Outros países que adotaram medidas indicadas pela ciência, como isolamento social, testagem em massa e rastreio de contágios, conseguiram superar uma primeira onda de impacto da pandemia. Agora, mais preparados, enfrentam uma segunda onda. Já o Brasil não adotou políticas que cumprissem devidamente as medidas recomendadas e sequer conseguiu sair da primeira onda.

Tragédia

Grande preocupação entre os especialistas no debate, o Brasil é um dos que menos testa a população para a covid-19. Mais que isso, por falta de organização do Ministério da Saúde, o país está prestes a jogar no lixo milhões de reais e de kits para a realização de testes, que estão perto do fim do prazo de validade, mas não foram aplicados pelo governo.

A ausência de testes reflete na alta em número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), muitas delas possivelmente causadas pelo novo coronavírus, mas à espera de testagem para comprovar o diagnóstico. Assim, o número real de mortes por covid-19 seguramente é maior que o oficialmente divulgado.

Fonte: RBA, com edição Seeb Pelotas

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