Médico intensivista critica distribuição de leitos em Pelotas

Na última segunda-feira (1), a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) anunciou, por meio de live oficial, que Pelotas passou a contar com “10 novos leitos para a UTI Covid, no Hospital Beneficência Portuguesa”, em meio ao agravamento da Pandemia, não só no município, mas em todo o Brasil. Mesmo com este acréscimo para o atendimento de casos graves de contaminação pelo coronavírus, na tarde de ontem, quarta-feira (3), a cidade chegou, novamente, a 90% de ocupação das Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).

Ao tratar desta situação, durante o programa Sociedade em Debate, da RádioCom, o médico intensivista do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP), Luciano Teixeira, explicou que os 10 leitos, anunciados no início da semana pela Prefeitura, correspondem a leitos de UTI Geral que foram transformados em UTI Covid e não a um número a mais de leitos, como pode ter sido entendido por muitas pessoas.

Essa medida, segundo Luciano, acaba causando desassistência a uma parte da população que venha a ter outros problemas clínicos e necessite de internação em UTI. O médico recorda que a Santa Casa também fez um movimento nesse mesmo sentido, transformando leitos de UTI Geral em leitos de UTI Covid, o que, segundo ele, cria um outro problema para o sistema de saúde do município.

“Estamos trabalhando com leitos que eram para atender uma determinada demanda, que continua existindo, e que foram transformados para atender outra demanda, que vem chegando de uma maneira muito pesada e muito forte, por conta da Pandemia”, ressalta o médico, ao esclarecer que as pessoas que passam por outros tipos de problemas de saúde, como AVCs, infartos, ou, até mesmo, que sofrem um acidente de trânsito, estarão não só desassistidas, mas, também, cada vez mais expostas à contaminação pelo vírus.

“Essas pessoas vão para o Pronto Socorro, mas, de lá, irão para onde, se os leitos que as receberiam viraram leitos Covid?”, questiona Luciano, ao lembrar, também, que a situação no Pronto Socorro Municipal de Pelotas é caótica. “Com o Pronto Socorro lotado, mesmo quem não está contaminado, mas é levado para o local, corre um grande risco de vir a contrair a doença, devido à desorganização e falta de adequação de fluxos por parte da Prefeitura”, critica.

Situação é grave

A situação da Pandemia, em Pelotas, é cada dia mais grave. Somente na tarde de ontem, quarta-feira (3), foram registrados mais dois óbitos e 228 novos casos, sendo que outros 1.014 exames aguardam confirmação de resultado. Diante do quadro caótico enfrentado pelo município, o médico Luciano Teixeira relembra que, em março de 2020, quando foi registrado o primeiro caso de coronavírus, no município, houve o fechamento de todo o comércio, mas, em novembro deste mesmo ano, quando estava sendo apontada uma clara curva ascendente de casos, o comércio esteve aberto, além de terem sido liberadas as áreas de circulação.

“O recado que as autoridades passavam é de que estava tudo sobre controle, porque estávamos em bandeira laranja, mas poderíamos adotar protocolo de bandeira amarela. Depois, em bandeira vermelha, mas poderíamos usar protocolo de bandeira laranja. Dessa forma, a informação nunca chegava de forma concreta, mas sempre dúbia, e a população já cansada, depois de um ano confinada, sempre recebendo essas más informações, começou a sair, encontrando uma ausência total de orientação e de fiscalização, contribuindo para que as praias ficassem lotadas, além de aproveitarem a abertura para a realização de eventos, festas, encontros e churrascos”, desabafa o médico do HUSFP.

Luciano lembra, ainda, da má gestão dos recursos para o enfrentamento da Pandemia, em Pelotas, no ano passado. “Tivemos a experiência do hospital de campanha, que não internou, nem recebeu nenhum paciente, e que custou quase meio milhão de reais. Em um determinado momento, também com curva ascendente, a Prefeitura fechou 50% dos leitos de UTI Covid, que estavam disponíveis em Pelotas, sendo 10 leitos na Beneficência e 10 no Hospital Escola da UFPel. Agora, diante desse quadro cada vez mais complicado, corre atrás de leitos para a UTI Covid”, critica.

Confira a entrevista na íntegra:

Redação: Eduardo Menezes – SEEB Pelotas

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