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Banrisul: 95 anos de história, luta e resistência do banco público dos gaúchos
Por Rafael da Silva*
Em 12 de Setembro de 1928, em Porto Alegre, foi fundado o BANRISUL, pelo então Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, Getúlio Dornelles Vargas, atendendo à demanda por crédito dos produtores rurais do Estado.
O banco foi fundado num contexto histórico e geopolítico muito adverso. O mundo estava sofrendo as consequências humanitárias e econômicas da Primeira Guerra mundial (1914-1918) e, pouco tempo depois, em 1929, estoura a Grande Depressão, cujo evento marcante é a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, que desencadearia uma grande crise mundial do capitalismo, com reflexos na economia brasileira.
O Banrisul permaneceu sólido e em expansão mesmo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Crise do Petróleo (década de 70), a Ditadura Militar brasileira (1964-1985), entre outros eventos históricos que marcariam a história nacional e mundial.
Saltando no tempo chegamos a década de 1990, que marcaria a ascensão do Neoliberalismo no Brasil, impulsionado pela abertura econômica, promovida pelo Presidente Fernando Collor de Mello, e o aprofundamento do ideário Neoliberal com vitória do tucano Fernando Henrique Cardoso (FHC) sobre Luís Inácio Lula da Silva (PT). No Rio Grande do Sul, Antônio Brito (PMDB) é eleito governador, fortemente alinhado com o governo federal, e promove a privatização da CRT, fecha a Caixa Econômica Estadual e vende parte da CEEE. Por falta de tempo – e por não ter sido reeleito – não consegue vender o Banrisul.
Nas eleições de 1998, Olívio Dutra (PT) é eleito governador, com uma visão oposta à de seu antecessor. Enxerga o Estado como um agente promotor do desenvolvimento social e econômico e, durante o seu mandato, busca fortalecer o caráter público do banco, criando vários programas sociais de economia solidária, fazendo com que o Banrisul passe por um período de relevante crescimento.
A partir do governo de Yeda Crussius (PSDB) o banco passa a sofrer golpes contundentes, com a venda de grandes quantidades de ações. Alguns anos mais tarde, o Governador José Ivo Sartori vende mais uma quantidade gigantesca de ações do banco dando continuidade a uma espécie de “privatização por etapas”. Esse governo tentaria, ainda, abrir o capital da Banrisul Cartões, mas acaba desistindo da operação devido à redução do valor de mercado da empresa.
Cabe ressaltar que os trabalhadores do Banrisul, organizados nos seus sindicatos, fizeram inúmeras mobilizações, atos públicos e campanhas contra o desmonte do banco, sem as quais, talvez, a intuição não existisse mais.
No ano de 2023, sob o governo de Eduardo Leite (PSDB), o fantasma da privatização do banco, permanece presente, pois o atual governador já privatizou a CEEE para a Equatorial, deixando milhões de gaúchos reféns da ineficácia e incompetência desta empresa privada; fato que vem se mostrando trágico a cada chuva ou problema na rede elétrica, em geral, quando o povo acaba ficando por dias, ou semanas, sem energia elétrica, devido à falta de conserto ou manutenção por parte da empresa privada. Vale lembrar, que, nesse mesmo sentido, está em curso, também, a privatização da Corsan e, depois de concluída esta etapa, restaria apenas o Banrisul para ser vendido.
É sempre bom ressaltar que o Banrisul vem desempenhando, historicamente, a sua função de banco público, financiando a economia gaúcha de forma ampla e atendendo a população na maioria absoluta dos municípios do RS. Na recente tragédia do ciclone de setembro, novamente a função pública e a necessidade de permanência do banco público ficaram evidenciadas, quando o Banco destinou uma linha de crédito de 1 bilhão de reais para ajudar na reconstrução dos municípios afetados pelas chuvas, criando linhas de crédito com taxas e prazos diferenciadas, protegidas por carência para o início dos pagamentos.
Por fim, gostaria de salientar que o Banrisul completa mais um ano de uma rica história, que se confunde com parte da história deste Estado e deste povo, sob ameaça continua de privatização, mais presente a partir do governo de Brito, como pudemos evidenciar, mas que se efetiva, em partes, nos Governos Yeda e Sartori (MDB), sempre muito presente no governo de Eduardo Leite, atual representante do Neoliberalismo no Estado.
Com todas as dificuldades, lutas e algumas contradições o banco chega aos seus 95 anos e, se depender da Luta dos trabalhadores, seguirá sempre existindo e cumprindo a sua função mais importante de banco público, que é apoiar e financiar a economia do Estado e atender às necessidades da população. O resto é secundário diante deste papel.
Parabéns ao Banrisul, aos trabalhadores e a todo o povo gaúcho!
*Diretor do Sindicato e funcionário do Banrisul