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Fórum pela Visibilidade Negra termina com proposição de bandeiras de luta contra racismo e desigualdades
O segundo e último dia do VII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro foi realizado no último sábado (11), no auditório do SindBancários, em Porto Alegre. No evento, ocorreu a aprovação da Carta de Porto Alegre, elaborada pelo Coletivo de Diversidade e Combate ao Racismo do Sindicato, com o objetivo de definir bandeiras, gerais e específicas, no sentido de unificar a luta contra o racismo, as desigualdades e as discriminações. Confira a íntegra da carta, redigida pelo assessor do SindBancários, Moah Sousa, neste link.
Também foram apresentadas e aprovadas pelos participantes duas moções, uma em apoio ao povo palestino e outra em apoio ao inquérito civil instaurado pelo Ministério Público Federal para apurar a responsabilidade do Banco do Brasil na escravidão e no tráfico de negros no século 19.
Para o diretor de Diversidade e Combate ao Racismo do Sindicato, Sandro Rodrigues, o Fórum contribuiu para a efetivação política, colocando desafios para a superação do racismo na categoria bancária, demandando a manutenção de conquistas, ganhando maior densidade e fortalecendo novas demandas. A circulação do debate de justiça racial ganha novos ativistas e militantes, e o antirracismo chama novos aliados para o movimentos negro, segundo ele.
“No evento, articulações políticas foram formadas para processarem novos entendimentos para uma conjuntura política que coloca outros problemas e desafios para a superação do racismo. Também foram aprovados documentos a partir dos debates e desdobramentos do Fórum, fortalecendo as políticas de ação antirracistas e a efetivação de pautas tão necessárias na categoria bancária”, destacou o dirigente.
“Ações afirmativas são ações compensatórias, não são favores”, defende Rodrigo Monteiro
As atividades de sábado do Fórum foram abertas por Rodrigo Monteiro, economista e servidor do Banco Central há 28 anos, com a palestra “O Sistema Financeiro brasileiro como política de inclusão de negras e negros no mercado de trabalho e redução das desigualdades sociais”. Ele fez uma apresentação sobre a realidade da população negra no mercado de trabalho e a importância das ações afirmativas, onde explicou algumas questões, como os mitos sobre a contratação de pessoas negras no Sistema Financeiro. Entre eles estão a falsa ideia de neutralidade e igualdade; resistência às ações afirmativas; falta de qualificação; antagonismo entre meritocracia e diversidade e inclusão.
Conforme o palestrante, esses são alguns dos itens que contribuem para a dificuldade de inserção e principalmente ascensão de negros nas empresas. “A população negra, à medida que os cargos vão subindo na hierarquia, é muito pequena ainda a nossa participação”, afirmou. Nos Conselhos de Administração, por exemplo, a presença de negros é de menos de 5%. Já no quadro de Trainees, o percentual aumenta para 58,2%, mostrando um possível impacto da lei de cotas, de 2012. “Temos mais pessoas negras com nível superior disputando vagas. É resultado de uma ação afirmativa lá de trás”, disse.
No Banco Central, a inserção de negros ainda é baixa: apenas 15,3% dos trabalhadores atuais se declaram pretos e pardos. Neste ano, foi nomeado o primeiro diretor negro nos 59 anos de história da instituição. Para Monteiro, essa realidade ainda é reflexo do racismo e da desigualdade ocorrida desde o período da escravidão. “O Brasil foi o último país a abolir a escravidão, não houve reparação financeiro aos negros libertos, eles deixaram as propriedades rurais e criaram aglomerados urbanos nas cidades. Então ações afirmativas são ações compensatórias, não são favores”, ressaltou.
Entre as ações afirmativas mais recentes, o economista citou:
- Lei 12.711 (2012): define percentual de cotas para ensino superior;
- Lei 12.990 (2014): destina 20% das vagas em concursos públicos para negros;
- Decreto 11.443 (2023): dispõe sobre preenchimento por pessoas negras de percentual mínimo de cargos em comissão e funções de confiança no âmbito da administração pública federal (mínimo de 30%);
- Criação do Ministério da Igualdade Racial e a retomada das políticas públicas em prol das populações negras e quilombolas (2023);
- Bancada Negra no Congresso Nacional (2023): a nova bancada é uma consequência da Emenda Constitucional 111, que adotou novas regras para a Câmara Federal. De acordo com a emenda, os votos a mulheres e pessoas negras contarão em dobro para a distribuição dos recursos do fundo eleitoral entre os partidos políticos até as eleições de 2030.
O palestrante elogiou a criação do Ministério e a escolha de Anielle Franco para a pasta, por sua qualificação e preocupação com o resgate da história do povo negro. Sobre a Bancada Negra, ressaltou que “é preciso votar em candidatos negros que lutem pela causa negra, pois não é por ser negro que está com os negros; tem que estar comprometido”. Ele defendeu ainda a necessidade de pessoas negras ocuparem posições de liderança no Sistema Financeiro e no mercado de trabalho como um todo. “Temos que escrever a nossa história e não deixar que outros façam isso por nós”, decretou.
Participantes trocam experiências sobre inclusão de minorias
Após o debate inicial, os participantes do fórum promoveram uma troca de experiências, trazendo relatos sobre formas de inclusão de pessoas negras, mulheres, LGBTs e PCDs, tanto nas entidades sindicais quanto nos bancos. Foi apontada a importância de um maior envolvimento do movimento sindical para tornar essa uma questão prioritária nas entidades como um todo e não apenas nos coletivos de diversidade.
Os representantes de trabalhadores afirmaram ainda que esse debate deve ser realizado ao longo do ano, não apenas em datas comemorativas ou em um mês específico (como no Novembro Negro). Defenderam ainda que as pautas sociais devem ter tanta relevância quanto as financeiras nas negociações com a patronal, para dar mais visibilidade às demandas dos grupos minoritários e aumentar a pressão nas mesas.
Entre as experiências apresentadas esteve um canal para recebimento de denúncias, onde os bancários e bancárias podem informar ao seu sindicato a ocorrência de racismo em seus locais de trabalho. A partir da averiguação das situações, os dirigentes apresentam relatos aos bancos e cobram ações para coibir esses atos.
Também foram apresentadas reivindicações para aumentar a inclusão de pessoas negras na direção das entidades sindicais e facilitar que dirigentes possam participar de atividades voltadas a debater as pautas desse grupo, como o próprio Fórum. Segundo relatos, alguns sindicatos tiveram dificuldades financeiras para enviar representantes para o evento deste ano.
A transmissão do segundo dia do Fórum pela Visibilidade Negra pode ser conferida neste link.
Fonte: Imprensa SindBancários