Bancários gaúchos aprovam pauta de reivindicações e priorizam debate sobre mudanças climáticas
Ainda sob impacto da tragédia climática no Estado, cerca de 300 bancárias e bancários gaúchos se reuniram virtualmente no último sábado, 1° de junho, para aprovar as reivindicações que serão levadas à Conferência Nacional da categoria, marcada para o próximo final de semana, de 7 a 9 de junho. A 26ª Conferência Estadual dos Bancários e das Bancárias do Rio Grande do Sul trouxe como principais propostas a necessidade de debater questões como meio ambiente, emprego, reestruturação dos bancos, terceirizações e adoecimento da categoria. Foi aprovado, também, que o reajuste a ser pleiteado será de aumento real de 5%, mais a inflação do período.
Bancos seguem com altos lucros e fechando agências e postos de trabalho
Na primeira parte da conferência, o economista do Dieese/RS, Alisson Droppa, apresentou um painel sobre a situação econômica das principais instituições financeiras do Brasil. Segundo ele, os cinco maiores bancos acumularam R$ 108,6 bilhões em lucro no ano passado. O valor representa uma alta média de 2,4% (variação semelhante ao ano de 2022). “A rentabilidade do Banco do Brasil e do Itaú estão variando na faixa de 20% ao ano. Significa que, a cada cinco anos, essas instituições dobram o seu patrimônio”, avalia.
Alisson também trouxe dados sobre a redução de postos de trabalho e fechamento de agências no país. Ao longo do ano de 2023, os cinco maiores bancos reduziram 2.173 postos de trabalho. No mesmo período, 640 agências tradicionais encerraram atividades. Tendência que segue se refletindo no primeiro trimestre de 2024, com mais 229 vagas de trabalho extintas e 173 agências fechadas. Segundo o economista, a retração dos postos de trabalho e do número de agência deve continuar nos próximos meses.
Sobre a reconstrução do Rio Grande do Sul, o economista do Dieese argumentou que o sucesso passa pelo modelo político que será adotado pelo governo e prefeituras. Segundo ele, não basta apenas recursos, mas sim como se dará esse processo. “A prefeitura de Porto Alegre e o Governo do RS, ao invés de valorizar a UFRGS e outros órgãos públicos, preferiu contratar uma empresa norte americana (Alvarez & Marsal) para pensar a política de desenvolvimento.” Para quem não lembra, esta empresa atuou na reconstrução das regiões atingidas pelo furacão Katrina, em 2005, nos Estados Unidos, priorizando as políticas de terceirizações e precarização do trabalho.
Para Alisson Droppa, a trágica enchente no Rio Grande do Sul mostrou a total falta de capacidade da prefeitura de Porto Alegre e do governo estadual de pensar políticas de desenvolvimento. Ele lembrou que órgãos públicos foram extintos, como o DEP/POA (Departamento de Esgotos Pluviais) ou privatizados, como a Corsan (vendida para o grupo Aegea em 2022), sempre de acordo com a cartilha neoliberal.
O economista sugeriu que os bancos públicos poderiam dar crédito a fundo perdido com o intuito de reconstruir o RS. “O empresário que perdeu tudo não tem vontade de tomar crédito para reconstruir seu negócio. Se as instituições de crédito estimulassem crédito a fundo perdido, garantindo que esse empresário geraria emprego de qualidade, teríamos a reinvenção do nosso modelo de desenvolvimento”, afirma.
Bancários enfrentarão conjuntura adversa na Campanha salarial 2024
No painel sobre conjuntura política e econômica, o diretor da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo, fez um apanhado geral sobre as principais pautas que a categoria bancária e a sociedade brasileira precisam avançar para o desenvolvimento do país. Sobre os desafios que estão por vir na campanha nacional deste ano, o dirigente sindical avalia que é preciso conter os ataques aos direitos e lutar para defender a sobrevivência da categoria. Além de avanços salariais e de benefícios, o objetivo deve ser buscar medidas para conter o processo de reestruturação dos bancos, que tem gerado desemprego, adoecimento e mudanças profundas no modo de trabalhar dos bancários.
O diretor da Fetrafi-RS afirma que é necessário ampliar a representação da categoria. Para isso, o objetivo é garantir no acordo deste ano a possibilidade de representação dos trabalhadores do conjunto dos segmentos do Ramo Financeiro. “Para enfrentar os bancos, precisamos ampliar nossa representação. Nós, como categoria bancária, estamos com tendência de redução. Graças à nossa resistência de lutar para manter Banrisul, Banco do Brasil e Caixa ainda sob controle do Estado é que os bancários existem como categoria. A metade dos bancários do Rio Grande do Sul é do Banrisul. Imagina o que seria da categoria se fosse privatizado?”, questiona.
Outro ponto defendido por Juberlei Bacelo foi a necessidade de buscar avanços na legislação sindical, garantindo a negociação coletiva e fortalecimento dos sindicatos. “Uma das coisas que o liberalismo fez no governo Bolsonaro foi atacar profundamente a organização dos trabalhadores, acabando com o financiamento sindical. Nós resolvemos essa questão na nossa categoria, mas as demais categorias não têm a garantia de que a classe patronal tem obrigação de fazer o processo de negociação”, pontua. Segundo o dirigente da Fetrafi-RS, avançar nesta legislação é importante, no sentido de que a organização da classe trabalhadora brasileira volte a ter capacidade de fazer a disputa dos rumos do país e da própria reconstrução do RS, que será necessária nos próximos anos.
Sobre a tragédia climática ocorrida no Estado, ele defende que a degradação ambiental precisa estar na pauta dos bancários. “Precisamos defender frentes de trabalho para reconstruir o Estado. É fundamental discutir o problema do desemprego que vai gerar essa catástrofe. São bandeiras que temos que levantar e fazer essa disputa”, afirma.
Contribuição sobre a PLR
A conferência aprovou também que seja iniciada uma discussão com os bancos para que haja uma contribuição aos fundos de pensão sobre o valor da PLR. Desta forma, o empregado pagaria uma parte da contribuição e a empresa complementaria a outra parte. A ideia é reduzir as perdas e garantir uma aposentaria mais justa para toda a categoria. A proposta foi aprovada com 60% dos votos na conferência.
Três moções relacionadas à tragédia climática no RS foram aprovadas na Conferência. A primeira intitulada “Bancos e Responsabilidade Climática: Um compromisso inadiável” diz que “os bancos precisam assumir o compromisso de atuação ativa na reversão dos efeitos climáticos com práticas de preservação, com respeito ambiental interno e nas proximidades onde estão instalados, assim como nos projetos que financiam”. A segunda moção, com o título de “Precisamos falar sobre a tragédia climática no RS”, propõe que, para iniciar o debate na categoria, a Fetrafi/RS promova um seminário, ainda neste ano, com a participação de estudiosos das mudanças climáticas. A terceira moção pede que “os bancos destinem 5% de seus lucros para a criação de um fundo emergencial de socorro às vítimas das enchentes, de enfrentamento às mudanças climáticas e de proteção do meio ambiente com controle social”.
Próximos passos da Campanha Nacional dos Bancários
As resoluções aprovadas na 26ª Conferência Estadual dos Bancários e das Bancárias do Rio Grande do Sul irão se somar com as propostas vindas dos outros Estados, além daquelas definidas nos encontros nacionais específicos dos trabalhadores de bancos públicos e de bancos privados. As pautas serão debatidas na Conferência Nacional dos Bancários, que será realizada nos dias 7 a 9 de junho e terá como principal tarefa a definição da pauta de reivindicações da categoria.
Depois de aprovada, a minuta de reivindicações será entregue à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para dar início às negociações da Campanha Nacional. O objetivo é renovar a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria e os Acordos Coletivos de Trabalho (ACTs) específicos dos bancos, com avanços. A vigência destes acordos se encerra no dia 31 de agosto.
Fonte: Fetrafi-RS