Número oficial da população em situação de rua em Pelotas é alvo de debate

Levantamento do Ministério Público revela que quase quatro mil pessoas vivem em situação de rua em Pelotas. Porém, a administração municipal alega que o número divulgado é fruto de um “possível erro de digitação”, mas falha em apresentar uma explicação com argumentos sólidos.

O assunto começou a repercutir nas redes sociais após a publicação de uma matéria no jornal “A hora do Sul”. A reportagem “Pelotas lidera ranking de pessoas em situação de rua” traz à tona dados muito importantes sobre a comunidade em situação de rua, na região sul, e principalmente na cidade de Pelotas. De acordo com o secretário de Assistência Social, Edmar Mesquita, a Prefeitura entrou em contato com o Ministério Público para contestar os dados divulgados. A instituição, conforme o secretário, já reenviou formulário para retificação. O secretário atribui o número divulgado pelo Ministério Público a um “possível erro de digitação”.

O principal cadastro do número de pessoas em situação de rua no município é baseado no Cadastro Único da Assistência Social, que, de acordo com dados oficiais da ASCOM, soma 743 cadastrados atualmente. A prefeitura foi questionada sobre como esse suposto erro de digitação poderia ser tão discrepante, mas não apresentou uma explicação concreta. 

 Nas redes sociais, a opinião pública reflete a preocupação com a crescente população de rua. “O número pode estar mesmo errado, porém, é fato que o número de pessoas em situação de rua vem aumentando consideravelmente na cidade. Infelizmente, uma cidade em ruínas com tanta sequência de governos que administram igual”, afirma @KarinaCrochemore em uma publicação referente à matéria.

 De acordo com a prefeitura, o Serviço Especializado em Abordagem Social realiza abordagens no município, identificando e mapeando os locais onde as pessoas em situação de rua ficam, orientando e encaminhando-as aos serviços socioassistenciais e de saúde. No ano passado, o secretário Edmar Mesquita informou que foram realizadas 1.067 abordagens nas ruas da cidade. Neste primeiro semestre, já foram 518 abordagens realizadas, com uma média de 86 pessoas por mês. O gestor argumenta que o dado apresentado pelo MP não corresponde à realidade, mas como o número total de 743 pessoas poderia ter sido multiplicado por cinco, resultando em quase quatro mil? A questão permanece sem resposta.

No instagram a usuária @iulliPitoneCardoso deixa o seu relato: “Eu morei um pouco mais de 10 anos em Pelotas (2010-2021), e em todas as vezes que retornei após esse período fiquei chocada com a quantidade de moradores de rua. Era de chocar na pandemia, o banco Santander ao lado da Biblioteca com vários moradores. E agora, principalmente no centro, observa-se um grande número. Espero que a economia do município melhore e proporcione melhores oportunidades para a população, e enquanto isso não ocorre, que ocorra alguma forma de assistência para essas pessoas. Seria o mínimo!” .

Ao ser questionado sobre quais políticas públicas a prefeitura dispõe para auxiliar essa população vulnerável, diversas respostas foram recebidas. No entanto, resta saber se essas políticas são implementadas e executadas de forma eficaz. De acordo com a ASCOM da prefeitura, as principais políticas públicas atualmente são da assistência social (Centro Pop, Casa de Passagem, CRAS, Restaurante Popular, abordagem social) e da política de saúde, através das UBS e serviços de saúde mental, bem como o Consultório na Rua.

O secretário destaca que a Casa de Passagem pode acolher até 80 pessoas e atualmente abriga uma média de 60 a 70. O albergue, uma entidade filantrópica, oferece 30 vagas todas as noites. O Centro Pop atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na rua Três de Maio, 1.070, Centro, onde os usuários recebem três refeições diárias (café, almoço e lanche da tarde). O atendimento no Centro Pop é espontâneo e também recebe encaminhamentos da rede socioassistencial e intersetorial.

Segundo as declarações, a população em situação de rua tem acesso a espaços para higiene pessoal, guarda de pertences, encaminhamentos para documentação, confecção de currículos e atendimento na rede de saúde, entre outras necessidades individuais. O Serviço Especializado em Abordagem Social, ofertado pela PSE de Média Complexidade, realiza abordagens e busca ativa para identificar pessoas em situação de rua e assegurar seu acesso à rede de serviços e benefícios assistenciais.

A divergência entre os números apresentados pelo Ministério Público e a prefeitura gera desconfiança e incerteza. A falta de uma resposta concreta e de argumentos sólidos por parte do poder público levanta dúvidas sobre a precisão dos dados e a eficácia das políticas públicas. A comunidade, enquanto isso, observa e questiona a real situação das ruas em Pelotas. Em quem acreditar?

Angelica Botelho declara nos comentários da matéria de A Hora do Sul “Lembre na hora de votar, além de ser desumano e revoltante é um projeto de governo, pois estão a três mandatos consecutivos na prefeitura. Chega”. Além de comentários nesse estilo, surgem também questionamentos como o do @thiagoballeste “Quero que os governantes se preocupem em dar estrutura adequada pro povo, que de educação. O que levou essas pessoas a abandonarem tudo que tinham para ter essa vida de abandono?”

O cenário exposto pelo jornal “A hora do Sul” sobre as pessoas em situação de rua em Pelotas expõe uma ferida social que não pode ser ignorada. A divergência entre os dados do Ministério Público e da prefeitura não só demonstra uma falta de comunicação e transparência entre as instituições, como também revela a ausência de uma política pública eficaz e sensível à realidade dessas pessoas. Enquanto os números são disputados nos gabinetes, a população em situação de rua continua a sofrer nas ruas da cidade.

É fundamental que as autoridades apresentem soluções reais, com base em dados precisos e políticas públicas não só escritas, mas bem implementadas. A cidade de Pelotas precisa urgentemente de um governo que enfrente as diversas crises presentes com seriedade e humanidade.

Redação: Luísa Brito 

Foto: Juliano Lima

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