RádioCom pauta Campanha Nacional dos Bancários e convida sociedade a refletir sobre o adoecimento mental da categoria

Atualmente, a categoria bancária está entre os dois segmentos da sociedade que mais adoecem por conta da rotina do trabalho, ao lado dos profissionais da área da saúde

É comum ouvir reclamações sobre o atendimento nas agências bancárias, sejam elas públicas ou privadas. Mas o que a maior parte das pessoas não tem conhecimento é sobre os motivos que levam à piora do atendimento. Em entrevista à RadioCom, nesta terça-feira (30), o diretor do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região (SEEBPel), Lucas da Cunha, teve a oportunidade de falar sobre a Campanha Nacional dos Bancários, enfatizando os principais fatores que têm levado ao adoecimento da categoria, o que acaba se refletindo no atendimento prestado à população.

“Infelizmente o trabalho como relação de adoecimento da categoria é um dado histórico. O que ocorre, hoje, é que esse adoecimento, sobretudo, mental, tem impactado cada vez mais não só na relação de trabalho, mas no serviço prestado, porque faz parte de uma relação de causa e consequência”, explica Lucas. De acordo com o dirigente sindical, embora atualmente esteja sendo possível pautar esta discussão junto aos órgãos públicos, como o INSS e o Ministério do Trabalho, é preciso avançar na compreensão do quadro atual, uma vez que a cobrança por metas tomou proporções nunca antes vistas.

“Não é apenas a cobrança por metas que leva ao adoecimento da categoria, mas a forma como se dá essa cobrança. Antigamente éramos cobrados de forma mensal, hoje, a cobrança é diária e, em alguns casos mais extremos, até mesmo por hora. É preciso que a sociedade entenda que estamos adoecendo por conta da forma como o mundo do trabalho se organiza, hoje, e isso prejudica a todos, já que a lógica imposta pelo sistema financeiro precariza o nosso trabalho e passa a oferecer um serviço cada vez pior aos clientes”, enfatiza o dirigente sindical.

A realidade a qual o diretor do Sindicato dos Bancários se refere está diretamente ligada às transformações que o sistema financeiro tem passado, com o avanço tecnológico sendo utilizado, de forma estratégica, para a redução do investimento dos bancos em pessoal, focando na venda de produtos. “Com certeza a tecnologia impacta o sistema financeiro e isso se reflete tanto na redução do número de agências quanto na diminuição de empregados. Mas, se observarmos com atenção, a maior parte dos trabalhadores formais, que estavam protegidos sob o aspecto legal do pertencimento à classe bancária, estão migrando para as fintechs. Estes bancos digitais não tem o mesmo compromisso com estes trabalhadores, que chegam a receber 50% menos que um bancário. Além disso, por não pertencerem à nossa categoria, não podem acessar nenhum dos direitos que conquistamos pelop modelo tradicional”, explica Lucas.

Como o mote da Campanha Nacional dos Bancários, neste ano de 2024, é Menos Metas, Mais saúde, o Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região tem reforçado a importância de convidar não apenas a própria categoria, mas a sociedade, de modo geral, a refletir sobre dados alarmantes que envolvem a rotina de trabalho da categoria. Na última semana, como parte das ações de conscientização que estão sendo promovidas, foi realizado um ato em frente a Agência do Banco do Brasil (BB), na rua Lobo da Costa, chamando a atenção de populares para o adoecimento mental dos bancários.

Dados da “Pesquisa Nacional da Contraf-CUT: modelos de gestão e patologias do trabalho bancário”, realizada em parceria com o Instituto de Pesquisa e Estudos sobre Trabalho, da Universidade de Brasília (UnB), que ouviu mais de 5.800 bancários de todo o país, revela que 76,5% destes trabalhadores tiveram pelo menos um problema de saúde relacionado à rotina laboral, no último ano. Além disso, 40,2% estavam em acompanhamento psiquiátrico, no momento em que responderam à pesquisa, e 54,5% afirmaram que o trabalho seria o principal motivo para a busca do tratamento médico.

“Para nós, bancários, é importante que os clientes entendem que os problemas que estão acontecendo dentro da agência, como a demora no atendimento, por exemplo, são de responsabilidade dos bancos e não dos empregados daquela agência. Estamos sobrecarregados, com agências muitas vezes lotadas, e o olhar que recai sobre estes trabalhadores é apenas de cobranças cada vez mais desumanas. Os clientes devem ser aliados dos bancários porque, juntos, temos força para reverter essa pressão, injusta, que está adoecendo a categoria. Somente de forma coletiva poderemos dar uma resposta aos bancos. Compreender o porquê do mau atendimento, hoje, é decisivo para que, no futuro, a situação não se agrave ainda mais. É inadmissível que a nossa categoria siga adoecendo e trabalhando, mesmo com atestado para se afastar, porque precisa cumprir metas e tem medo de perder o emprego ou as comissões, no caso dos empregados dos bancos públicos”, desabafa Lucas.

Saiba quais são os eixos da pauta de reivindicações da Campanha Nacional dos Bancários 2024:

•Aumento real de 5% (inflação + 5%), PLR maior e ampliação de direitos
•Fim do assédio e dos instrumentos adoecedores na cobrança de metas
•Representação de todos os trabalhadores do ramo financeiro
•Defesa dos empregos, considerando os avanços tecnológicos no trabalho bancário
•Redução da taxa de juros para induzir o crescimento econômico e geração de emprego e renda
•Reforma tributária: tributar os super ricos e ampliar a isenção do IR na PLR
•Fortalecimento das entidades sindicais e da negociação coletiva
•Ampliação da sindicalização
•Fortalecimento do debate sobre a importância das eleições de 2024 para a classe trabalhadora na defesa de seus direitos e da democracia: eleger candidatos e candidatas que tenham compromisso com as pautas dos trabalhadores

Redação: Eduardo Menezes

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