Na UFSM, pró e anti-Lula entram em confronto enquanto ex-presidente se reúne com reitor
Por Luís Eduardo Gomes – Sul 21
A primeira parada da Caravana de Lula por Santa Maria foi marcada por tensão e confusão entre apoiadores e manifestantes contrários à visita do ex-presidente. Enquanto ele se reunia a portas fechadas com a reitoria da UFSM na tarde desta terça-feira (20), os dois grupos antagônicos em diversos momentos ficaram frente a frente, trocando xingamentos, palavras de ordem, empurrões e até agressões. A Brigada Militar, que foi acionada para atuar na segurança da caravana, só interveio para separar os lados depois de quase uma hora de confusão.
A Caravana de Lula pela região Sul – que vai até sexta-feira no RS e depois segue para SC e PR -, iniciou o dia em deslocamento entre Santana do Livramento e Santa Maria. No caminho, alguns manifestantes contrários à visita chegaram a bloquear a estrada. Os três ônibus que compõe a comitiva chegaram à UFSM por volta das 14h20, um atraso de 20 minutos em relação ao horário previsto.
Recebido por um grande contingente de estudantes e apoiadores, Lula entrou rapidamente dentro da reitoria, onde participou de ato com o reitor da UFSM, Paulo Burmann, que teve cerca de duas horas de duração a portas fechadas.
Do lado de fora, porém, o clima foi tenso. Inicialmente, manifestantes contrários à visita tentaram realizar um ato com o apoio de um caminhão de som ao lado do local onde os apoiadores do ex-presidente se encontravam, mas recuaram após serem confrontados. Na sequência, porém, um grande contingente de pessoas do grupo anti-Lula que estavam em outro local se dirigiram para as proximidades da reitoria. Sem a presença de seguranças e da polícia, os dois grupos antagônicos ficaram frente a frente.
Palavras de ordem foram trocadas. Se de um lado os contrários cantavam “Lula ladrão, teu lugar é na prisão”, os favoráveis rebatiam com “Lula ladrão, roubou meu coração”. Xingamentos também iam e viam de lado e outro, bem como agressões e empurrões. Por cerca de uma hora, os dois grupos alternaram momentos de confronto com outros de relativa calmaria, mas sempre com os anti Lula tentando chegar mais próximos da reitoria.
Entre os favoráveis, a maioria era composta por estudantes e representantes de movimentos sociais, como o MST, que tem acompanhado a caravana desde o início.
Estudante de Publicidade e Propaganda, Gustavo Modena defendeu o direito dos ex-presidentes Lula e Dilma visitarem a universidade. “É muito importante nós recebermos dois ex-presidentes do País, uma presidenta eleita e impitimada pelo golpe de 2016, mas tristemente nós tivemos para esse confronto onde algumas pessoas foram para ataques físicos. A presença de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef é muito importante para nós estudantes, que sabemos o quanto o governo deles destinou recursos para a educação, enquanto o atual o governo de Michel Temer, golpista, congela recursos nessa área”, disse.
Também favorável à visita, Anna Clara Dorneles Tesche, que cursa Jornalismo, disse que os contrários tinham todo o direito a se manifestar, mas os acusou de iniciar as agressões. “Eu acho válidos esses manifestos contra, é a opinião deles, porém, eles estão indo para a agressão física, o que é muito imoral. Mas também é bom porque mostra para todo mundo que não é nós que estamos a favor do
Lula e da Dilma que somos a favor da violência. Eles não tem opinião e não tem uma palavra forte o suficiente, então tem que partir para a agressão mesmo”, disse.
Do outro lado, os manifestantes, que incluíam estudantes e outros grupos de fora da universidade, incluindo diversas pessoas com camisetas favoráveis a Jair Bolsonaro. Para a estudante de Letras, Lariane Londero Weber, a visita, por se tratar de um ato político, não deveria ocorrer dentro da universidade pública. “Eu to bem preocupada porque a gente está em uma instituição de ensino, uma instituição pública em que foi permitido que um ex-político que foi condenado em três instâncias (sic) diferentes a 12 anos, um mês e 280 dias fizesse uma pré-campanha, outra coisa que é proibida por lei. Eu acho uma piada. Todo o MST está aí, por quê? Vão tomar a terra da universidade?”, disse.
A tensão só foi dissipada de fato quando homens do primeiro regimento de cavalaria montada da Brigada Militar intervieram e determinaram que um espaço fosse aberto entre os dois lados.
Há a informação de que pelo menos uma pessoa foi levada para o hospital da UFSM pra receber atendimento, mas não há mais informações sobre dos motivos que a levaram a necessitar de atendimento nem de qual lado ela seria.
Comandante do 1° RPMon, o tenente-coronel Hernandes, disse que a BM não tinha a confirmação de que alguém tivesse se ferido em confronto. Segundo ele, a polícia havia inicialmente sido acionada para garantir a segurança da caravana e, hoje pela manhã, a pedidos da reitoria, passado a ficar de prontidão para algum eventual conflito dentro do campus. Como o local é uma área federal, ele explicou que a BM não podia intervir a menos que fosse acionada. Durante a tarde, porém, diversas ligações foram feitas ao 190 pedindo a intervenção da polícia, segundo o comandante, de ambos os lados.
Diante do cenário instaurado, Hernandes considerou que o saldo foi positivo e que os enfrentamentos foram mínimos perto do que poderia ter havido.
“Estamos em uma democracia e as pessoas precisam se respeitar. Não pode a polícia ser responsabilizada se agir ou se não agir”, disse o tenente-coronel, que ainda considerou que os ânimos acirrados são fruto dos protestos que ocorreram durante a primeira parada da caravana, em Bagé.
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